sexta-feira, julho 06, 2007

Os Doces de Pelotas


Para meus doces amigos e amores



Quando guri, em Pelotas, comia doces na Confeitaria Nogueira ou na Confeitaria Gaspar. Eram doces deliciosos de nozes, camafeus, trouxinhas, quindins, bombas recheadas, que eu adorava quando traziam para casa. Na primeira cidade que visitei, na primeira vez que saí de Pelotas, que era a cidade de Rio Grande, havia uma Confeitaria Sol-de-Ouro que disputava a primazia com os doces de Pelotas. Eu, como bom pelotense, dizia que os doces de Pelotas eram melhores. Mais tarde, a confeitaria de Rio Grande fechou e sobraram os doces de Pelotas.

Tempos depois, já formado, morei em Porto Alegre. De vez em quando procurava doces por lá e só encontrava umas massas pesadas e imitações açucaradas dos doces que eu conhecia. Atribuí isso ao fato de Porto Alegre ser uma cidade grande demais e eu não conhecer os lugares onde estavam os bons doces.

Logo depois fui morar em Santa Maria. Morei numa galeria no Centro, logo ao lado da Confeitaria Copacabana. Na primeira vez que descemos do apartamento para comer doces, tivemos uma decepção profunda: os doces eram massas cobertas com geléias ou suspeitas gelatinas. Nada de camafeus, nada de trouxinhas. As bombas recheadas não eram nem sombra das que eu conhecia, com recheio de gosto excessivo de essência de baunilha.

Com o tempo, descobri que eu teria morado numa cidade que tinha os melhores doces do país e eu não sabia! Agora existe a Festa Nacional do Doce e pessoas de todos os lugares se deslocam para a cidade para comer os doces da minha infância.

Meu amigo Rafael, filho do Décio e da Neusinha, costumava deitar na cama com a mãe e indagar sobre o aparelho sexual dela. Queria saber dos detalhes de funcionamento. Quando ele contava o que havia aprendido com a mãe para os amiguinhos, eles ficavam surpresos em saber que Rafael tinha aquela intimidade e amizade com a mãe dele. Rafael descobriu que tinha pais únicos, por comparação. Rafael foi ser biólogo (é claro) e tem uma carreira promissora.

Emílio e Júlia, meus sobrinhos, descobrem, por comparação, que são raros os pais tão amigos e parceiros como os deles. Meus cunhados são daqueles pais amigos sem serem controladores, que não se utilizam da amizade para controlar os filhos. São amigos de verdade, carinhosos, afetivos e atentos na medida certa. Meus sobrinhos são pessoas íntegras e responsáveis.

Quantas vezes estamos em frente aos doces de Pelotas, únicos no País, e pensamos que em frente a doces normais? Com quantas pessoas únicas convivemos e não percebemos, por efeito da rotina diária?

Muitas vezes precisamos conhecer doces ruins, falsos e malfeitos para valorizar os doces de casa.

Eu, que já tive a minha dose de doces vagabundos, sei que tenho amigos e amores raros, aprendi a percebê-los com os doces de Pelotas.

A Cleuza é um doce de Pelotas... Mas que eu não reparto com ninguém.

11 comentários:

Candy Devilla disse...

As pessoas começam a valorizar as coisas quando já não as tem mais...

Anônimo disse...

O Tabá também é um doce de Pelotas e nós não precisamos nos perder para reconhecermos que temos os melhores doces amores.

Cleuza.

Filósofo Onirico disse...

Quando entreguei minha tese de doutorado em 1999, fiz um curso que vinha adiando faz tempo. Doces de Pelotas, no Senac de Rio Grande. Ontem tive uma imensa alegria. Após a aula sobre Nietzsche, no MEA da FURG, um estudante, professor da UFPEL, fez a agradável surpresa de me presentear com uma caixa de doces de Pelotas. Sai saltitante, apesar de meus quase 100 kg. Virei criança novamente. Agora Taba, quando li o teu comentário, não resisti de escrever essas coisas, pois sou neto de um cara que alugava um carro de praça para nos levar e trazer de Pelotas para almoçar e comer doces.

Bárbara disse...

Os doces deixam saudades ... Mas de certa forma não deixa de ser ruim porque, assim, podemos voltar e não deixar que o seu gosto se perca com o tempo!

Abraços,

Bárbara.

Anônimo disse...

Gostoso ler este texto que iguala autenticidade e amores a doces,
que afaga a alma com o amor de vocês, Taba e Cleuza... e que me põe na boca e no coração o doce degustado com vinho na velha casa Ribes.
Grata
Bjos adocicados e enebriados...

Anônimo disse...

Oi Tabá! Como sempre...fabuloso! Pois é...a experiência ensina! E o melhor de tudo isso é o reconhecimento dos "verdadeiros doces de Pelotas"! Abração! Eve

Anônimo disse...

Oi Tabazinho!
Encontrei muito sábia a comparação doces especiais com amigos de verdade. Fico feliz em saber que fazemos parte da tua bandeja de doces de Pelotas. Ontem senti, também, grande emoção em ver o meu amigo desbravando novos em novos espaços.
Fiquei impressionada com a vibração da Cleuza, que curtia como se fosse ela o alvo dos aplausos. Ter essa reação frente ao sucesso do outro é mesmo muito especial. Parabéns!
Beijos
Neusa

Anônimo disse...

Adorei o texto que compara os doces raros, finos e especiais de Pelotas, com as pessoas únicas e importantes em nossas vidas, como os pais, filhos, amores e amigos.

Excelente Tabajara

Menestrino disse...

Professor, parabéns pelo seu blog!Quando puder dê uma olhada no meu: http://clidomancia.blogspot.com

Um abraço.

Unknown disse...

Certa vez tu já tinhas me falado sobre a o quanto especial podem ser as coisas ao nosso redor, e que muitas vezes nao observamos justamente por serem do nosso cotidiano. Me lembro perfeitamente da comparaçao com os doces de Pelotas!
Acho que não poderia haver comparação melhor para mostrar o valor do mundo que nos cerca!
Sobre os filhos da tua cunhada, são realmente bem gente fina né?! Aquela menina mesmo, aquela bem branquinha, é uma graça!!

Bárbara Heller disse...

Olá Taba
Meu nome é Bárbara Heller e sou gestora do Projeto Pólo de Doces de Pelotas.
Estavo no google procurando notícias sobre os doces e te encontrei.
Achei que gostaria de saber que a Associação dos Produtores de Doces de Pelotas estará presente na Expointer 2008 (30/08 a 07/09), no estande do Sebrae, participando da Boutique Sabores do Rio Grande. Lá, serão comercializados os tradicionais doces de Pelotas.
Abraço