sexta-feira, março 08, 2013

Para as feiticeiras


Aos homens:

Uma "feiticeira" foi como, historicamente, as feministas européias chamavam uma mulher.

Pauline Julien, canadense, falecida prematuramente, dá um tapa forte em nossas machistas caras. A canção tem uns 6 minutos. É o tempo que devemos dispor para aprender como homenagear às nossas feiticeiras.

A tradução da canção fiz agora para vocês, homens. As mulheres devem aproveitar. Emocionante. Leiam por favor, com atenção:

Por favor
Sejam como cobertores.
Sejam como plumas de ganso
Das almofadas antigas.
Eu gostaria de
Não ser uma carregadora

Por favor, façam-se leves
Eu já não posso me mover

Eu os carreguei vivos
Eu os carreguei crianças
Deus! Como vocês eram pesados!
Pesando seus pesos de amor.
Eu os carreguei ainda
No momento das suas mortes.
Eu levei flores.
Eu lhes reparti meu coração.
Enquanto vocês brincavam de guerra,
Eu mantive a casa.
Eu usei minhas orações
Contra as grades de suas prisões,
Enquanto vocês morriam sob as bombas,
Eu os procurava gritando.

Eis-me aqui como um túmulo
E todo o mal dentro dele.

Esta sou eu
É ela ou eu
Aquela que fala ou que se cala
A que chora ou é alegre
É Joana d'Arc ou só Margot
Mulher de ondas ou de riachos

E é o meu coração
Ou mesmo o dela
E é a irmã ou a desconhecida
Aquela que nunca chegou
Aquela que veio tarde demais
Mulher dos sonhos ou do acaso

E é minha mãe
Ou a sua
Uma feiticeira
Como outras

Vocês precisam
Ser como o riacho
Como a água clara do lago
Que reflete e espera
Por favor
Olhem para mim! Eu sou real!
Eu imploro, não me inventem,
Vocês já fizeram tanto isso...

Vocês me gostaram como serva
Me queriam ignorante.
Se forte, lutavam contra mim
Se fraca, vocês me desprezavam
Vocês me gostavam como puta
Coberta com cetim.
Você me fizeram estátua
E eu sempre me matei
Quando eu estava velha e feia demais,
Vocês me eliminavam.
Vocês me recusavam ajuda,
Quando eu não servia mais.
Quando eu era bonita e submissa,
Vocês me adoravam de joelhos.

Eis-me aqui como uma igreja
Com toda a vergonha por debaixo.

Esta sou eu
É ela ou eu
Aquele que ama ou que não ama
Aquela que reina ou se debate
É Josephine ou Dupont
Mulher de pérola ou de algodão
E é o meu coração
Ou mesmo o dela
Que espera no porto.
Aquela dos memoriais aos mortos.
Aquela que dança e que morre.
Mulher-betume ou mulher-flor.

E é a minha mãe
Ou a sua
Uma feiticeira
Como outras

Por favor
Sejam como eu lhes tenho sido.
Eu lhes sonhei desde muito
Livres e fortes como o vento,
Também livre.
Olhem, eu sou assim
Conheçam-me, não tenham medo!
Quanto a mim, eu lhes conheço de cor.

Eu era aquela que esperava,
Mas eu posso andar na frente.
Eu era a lenha e o fogo
E incendiar também eu posso.
Eu era a deusa mãe,
Mas eu era apenas poeira.
Eu era o chão sob seus pés
E eu não sabia.
Mas um dia a terra se abre
E o vulcão não espera mais.
O solo rompendo-se descobre
Uma riqueza desconhecida
O mar, por sua vez vagueia
Uma violência ociosa

Eis-me aqui como uma onda
Vocês não serão afogados...

Esta sou eu
É ela ou eu
E que é a ancestral ou é a filha
Aquele que dá ou nega
Este é Gabrielle ou mesmo Eva
Mulher de amor ou de luta
E é o meu coração
Ou mesmo o dela
Aquela que se encontra na sua primavera
Aquela que ninguém espera
E é a feia ou a bonita
Mulher de neblina ou de céu pleno

E é a minha mãe
Ou a sua
Uma feiticeira
Como outras

Por favor
Por favor, façam-se leves
Eu já não posso me mover!

http://www.youtube.com/watch?v=COMDaYKJCWs