sexta-feira, novembro 17, 2006

The easy way out

La parresse est la mère de tous les vices.
Bertold Brecht
Os norte-americanos utilizam com freqüência a expressão do título deste texto, que se refere a escolhermos o modo mais fácil de resolver um problema, uma saída fácil, uma solução cômoda rápida e indolor. Talvez por convicções religiosas e culturais, eles repitam a lembrança de que é preciso trabalhar para conseguir o que se quer. Talvez eles consigam ver que as soluções, muitas vezes, são mais complexas do que aparentam.

Mas, observando a minha vida e a de meus amigos, tenho razões para pensar que as soluções fáceis podem cobrar um preço bastante elevado no futuro.

Começo pensando no simples ato de perder peso. Comer é bom, muito bom. Descansar, ver filmes, ouvir música é muito bom. A combinação engorda. Os médicos dizem atualmente que ser gordo não é saudável, entope as artérias e pode causar enfarte. Para ter o prazer de comer, ver filmes, ouvir música por mais tempo é necessário ficar vivo. Qual a solução para o impasse? A saída fácil é tomar remédios para queimar calorias, ajudam a emagrecer sem tirar o prazer de continuar comendo, vendo filmes e ouvindo música, evitando a incômoda escolha pela ginástica. A tal ginástica é uma tortura, cansa, sua, exige movimentos estapafúrdios, quando não se tem vontade de fazer, sem contar que as músicas supostamente apropriadas para uma academia de ginástica são os insuportáveis batidões de estaca, as ivetes sangalos, os pagodões melosos e imbecis. Bleargh! Definitivamente a solução mais fácil são as drogas. Legais e prescritas pelos médicos. Existem inibidores de apetite que evitam que o sujeito caia em tentação.

Qual o preço dessa solução? Não sou médico, mas posso intuir algumas conseqüências. A principal, para mim, é que a pessoa fez escolha pela solução fácil, sem esforço, sem mérito pessoal, crente de que a tecnologia avançada é capaz de resolver todos os problemas humanos. O principal é entregar a solução nas mãos de outro. É a pessoa não confiar em si mesma. A educação física atual é resultado de muito estudo, mas essa solução não é tecnológica “avançada”, parece ser considerada primitiva, já que não envolve manipulação de componentes externos, e depende do esforço pessoal e decisão do educando. Poderia falar ainda dos resultados fisiológicos associados às duas soluções apresentadas, mas não sou conhecedor. O que sei é vou precisar das minhas pernas, dos meus joelhos, dos meus braços, do meu coração ainda mais, quando for ainda mais velho. Investir neles é uma necessidade básica de sobrevivência.

O mundo parece pleno de soluções fáceis: a condução motorizada é a solução fácil para o deslocamento (às vezes não dá para ir a pé?); a televisão é a solução fácil para evitar a leitura (não preciso ler “Incidente em Antares” do Érico Veríssimo, já deu na TV Globo a mini-série...); a confissão é a solução fácil do pecador católico (não há problema em prevaricar, amanhã tem missa...); a droga é a solução fácil para maus relacionamentos; a dificuldade de arranjar emprego é a desculpa para a solução fácil de depender da família e assim por diante.

Parece que o mundo atual, com sua tecnologia avançada, sua superpopulação, sua conseqüente violência, oferece-nos cada vez mais a solução fácil, de mão-beijada, sem esforço, sem ação, sem movimento. Que preço pagaremos no futuro?

Não que eu esteja defendendo que temos que sofrer para ser feliz. Não acredito mesmo nessa premissa religiosa. Mas, também não acredito que a minha vida não dependa do meu próprio esforço, da minha aprendizagem, não acredito que possa ser entregue ou decidida por outros. Nem quero.

9 comentários:

Anônimo disse...

Oi Taba, sempre leio seus textos e, por causa da correria, não consigo fazer comentários, mas o de hoje merece. Ontem foi o dia internacional da tolerância, o que eu acho que tem tudo a ver com o que você escreveu. As pessoas vivem com tudo para ontem e não conseguem curtir a vida e os momentos que estão passando. É uma correria sem fim... preocupações por vezes inúteis... pensando em ter, ter, ter... e nunca em aproveitar. A vida aqui em São Paulo é uma verdadeira loucura. As pessoas não são nada tolerantes e querem tudo para ontem. Impossível viver assim! Isso mata! Por isso, hoje quero convidar a todos os amigos do Taba e os amigos dos amigos para pararmos um instante e prestarmos atenção em nós, na nossa saúde, em nossa família, nos nossos amigos e reavaliarmos nossos objetivos e interesses. Não vamos esquecer que é preciso chover para ter arco-íris, e que há tempo para tudo, não adianta querer correr.
Um super beijo e muito paciência e tranquilidae a todos nós.

Anônimo disse...

Oi Taba! Gostei do teu texto, e nao vo usar duma saida facil, ler o texto e nao deixar algum commentario para o autor!
A minha mae sempre me dizia de escolher o caminho mais dificil, para apprender mais da vida (DISCULPE para o portugues), mas me lembro tambem do teu ultimo texto, a questao da sobrevivancia. A gente nao quere soffrer, so faz todo para ter uma vida agradavel, cheia de felicidade, como isso a gente parece feliz e somos amados. Nimguem quere ter um amigo quem nao ta feliz, que tem problemas.
Mas quando nos estamos adultos, procuramos amiguos que tem experienca, e as pessoas que sao mas interresantes sao aqueles que tinha problemas e que nao escolhe a saida facil...

Disculpa si tu nao entende nada do que tentei de escrever, mas noa escolhei a saida facil, que era de todo escrever em frances!;-)
Faz uma visitinha no meu blog tambem!;-)
Beijos

Anônimo disse...

Olá Dindo!
Ótimo texto. Com exemplos simples vc conseguiu explicar uma coisa tão falada mas as vezes pouco entendida.
Beijão!

Anônimo disse...

Ola, Taba, grande texto!! realmente, estamo vivendo em tempos que as pessoas preferem optar pelo mais, menos trabalhoso, que não precise pensar muito.. obrigado pelo texto, é otimo pararmos às vezes e pensar se também de certa forma não estamos sendo coniventes com esta situação.. um forte abraço

Anônimo disse...

É nessas horas que eu penso, que tudo que bom, gostoso e delicioso, engorda e (ou) faz mal.
Porque, diabos, o souflê de chuchu (bleargh) não engorda? Porque só a torta de creme e morango, a picanha suculenta e o chopp geladíssimo nos condenam a morrer mais cedo, adiposos e travados numa cama, respirando por aparelhos? Sacanagem!
É preferível ficar em casa, deitado numa rede, ouvindo Mahler do que ir pra academia suar, ouvindo Ivete Sangallo. Não tenho dúvidas disso. Uma vez eu fui, de tanto que minha mulher insistiu. Tenho hoje um menisco estourado e me cago de medo de operar.
Definitivamente prefiro a rede e Mahler, mesmo correndo todos os riscos.

Anônimo disse...

Oi, Taba, grande mestre!

Assim como a Carina relacionou teu texto com a questão da tolerância de uns para com os outros, não pude evitar fazer uma relação dele com a questão do sistema econômico de liberalismo exacerbado - também chamado de neoliberalismo - sob o qual vivemos hoje, sistema que, após a queda do muro de Berlim, reinou praticamente sem contestação, pelo menos até o surgimento do Fórum Social Mundial.

Se não me engano acho até que já deixei um comentário sobre um texto teu mais antigo, onde falava da tal de "mão invisível" do mercado. Esta visão da teoria liberal advoga que, se cada um fizer o que achar melhor para si, no final, o mercado fará os ajustes necessários para que, também no conjunto, tudo se arranje da melhor maneira possível. Os que assim pensam argumentam, então, que, se há uma "mão invisível" a arrumar as coisas, quanto menos a gente mexer, melhor. Daí para teorias de estado mínimo, privatizações e redução de gastos, invariavelmente afetando investimentos em saúde, educação e programas sociais, é um pulo.

É interessante destacar que, mesmo entre os liberais, há aqueles que não acreditam nessa teoria. Os Keynesianos, por exemplo, dizem que o mercado não pode ser deixado ao seu bel prazer porque ocasionará significativas distorções que, ao se avolumarem com o tempo, tenderiam a provocar crises terríveis. Defendem, então, a necessidade da aplicação de políticas públicas, quer as inibidoras e/ou amortizadoras dos distúrbios gerados pelo sistema, quer as de caráter social, compensatórias dos efeitos dessas distorções. Por último, defendem ainda, em maior ou menor grau, um estado com capacidade de implantá-las e gerenciá-las.

Esta tem sido a discussão atual que vivemos hoje no mundo da economia (e da política...), já que uma terceira opção, o socialismo, tem sido preterida até mesmo por governos situados à esquerda do espectro político-partidário. Ao meu ver isso decorre em boa medida devido à internacionalização dos mercados financeiros e o consequente aumento do grau de inter-dependência das economias dos diversos países, situação que se agravou sobremaneira com a globalização acelerada das últimas décadas.

Mas, voltando ao meu objetivo inicial, de relacionar o texto com a economia, acredito, como tu, que as ditas soluções fáceis nem sempre são as melhores. Aliás, acho mesmo que são excessões as que se encaixariam nesse perfil; o normal é o contrário, como bem exemplificaste no teu texto.

Ocorre que, diariamente e por incontáveis vezes, somos bombardeados por todos os lados com propagandas, textos, exemplos, situações do dia-à-dia, etc..., que nos dizem que temos que procurar o melhor para nós (em outras palavras, sermos mais egoístas, levar vantagem em tudo como chegou a afirmar um comercial que marcou época). E mais, dizem que nem precisamos ter drama de consciência quando não levamos em conta os outros em nossas decisões porque, no final, tudo se ajeitará da melhor maneira possível.

Cada um pode, em pouco tempo, elencar uma série dessas situações. Para não me alongar mais, cito aqui apenas um dilema que ouvi por esses dias, filho direto dessa pressão social que se acentuou muito ultimamente: um pai, humanista, defensor da solidariedade entre as pessoas, se questionava se deveria passar tais valores ao seu filho pequeno, uma vez que ele poderia vir a ter problemas no futuro caso não se adaptasse às novas regras do mercado de trabalho, que agora exige um profissional mais "competitivo".

A solução fácil, a qual muitas vezes sucumbimos, é adaptar-se aos novos tempos, nomearmos isso de moderno e terminarmos por relativizar, até por tornar natural, situações que, de outro modo, não passariam pelo crivo de uma consciência humanista um pouco mais crítica. E ainda por cima criamos as desculpas que temtam nos justificar perante nós mesmos e os outros, fazendo mais um link com o teu texto, onde também apontas algumas desculpas utilizadas.

Resumindo, o sistema liberal prega competição, sem limites na prática, enquanto eu preferiria um sistema que privilegiasse a solidariedade, até porque vejo nesta alternativa a única capaz de responder aos imensos desafios que se apresentam à humanidade neste século que se inicia, a começar pela questão do trabalho (da falta de) e da fome, e a terminar pela questão ecológica, que se anuncia apocalíptica, caso não consigamos, conjuntamente, encontrar uma solução razoável.

Mas, para isso, acredito piamente que necessitamos trocar esses atuais paradigmas que nos regem a vida e que, como disse a Carina, nos põe a correr feito doidos, nos estressam cada vez mais e nos fazem ficar cada vez menos tolerantes para com tudo e todos que nos são um pouco diferentes. Há uma frase lapidar que, apesar de bem humorada, aponta com clareza para essa pouca tolerância crescente: "Pior que esta lesma que está no carro da frente trancando minha passagem, só mesmo este estressado apressadinho que vem querendo me ultrapassar". Ou seja, eu - egoísmo - sou a medida de todas as coisas.

Outro exemplo: quem, tendo por paradigma a solução fácil do lucro imediato irá pensar em preservar a natureza? Aparentemente o pressuposto da grande maioria deve continuar a ser o do maior lucro no menor prazo com o menor risco possível - risco para si, bem entendido, já que o ambiental pode ser enorme sem que isso signifique grandes problemas de consciência, afinal, pode-se sempre argumentar que "se está gerando empregos" ou que" este projeto é a modernidade" (e, consequentemente, quem estiver contra representa o atraso). Com a manutenção de tal paradigma nossa esperança de um mundo melhor e mais fraterno se esvairá rapidamente por entre os dedos.

Por fim, Taba, encerro dizendo que teu texto mais uma vez me fez lembrar de nossas antigas conversas. Nele apontas várias questões pertinentes ao indivíduo, no âmbito de seu livre arbítrio. Já eu, como antes, não consigo evitar de abordar as mesmas questões pelo aspecto macro, da sociedade com um todo. Desconfio que os problemas que levantas estão postos para nós nas duas esferas e, em ambas, a nós compete encontrar as alternativas que nos permitam melhorar cada vez mais como pessoas ao mesmo tempo que, coletivamente, aperfeiçoamos os mecanismos que regem nossa convivência com os outros.

Um abração do teu amigo

Eduardo (Duda) Carvalho Pereira

Anônimo disse...

Já é segunda feira e somente agora li teu texto, Tabá "Babado" (HURRGH!!!). Saída fácil é atribuir o fato aos espumantes que bebemos nos salões da Pestano.
Mas... o que fica deste texto para complementar as reflexões é o quanto "sou sim" responsável por minhas aprendizagens, por minhas retomadas e ressignificações. Grande abraço!!!!!

Anônimo disse...

Ah! O Equilíbrio! Este maldito equilíbrio... A Teoria das Catástrofes (que vc já mencionou) mostra como os opostos entram em conflito, polarizados, onde o 'equilíbrio' se encontra na zona de descontinuidade, fluídica, volátil, escorregadiça, difícil de não pender para um ou para outro lado. Pela termodinâmica seguimos naturalmente a 'lei do mínimo esforço', o que nos leva a escolhas easy-way-out. O aprendizado é sempre contra o gradiente, com muito esforço e gasto de energia. Quer fazer algo bem feito, invista energia na qualidade do que queres, contra tudo e contra todos! Assim é que se aprende a Viver, a praticar a Sobrevivência! Um copo de vinho faz bem, 2 garrafas de vinho podem te levar a um desastre! A Escolha é nossa! Saber parar no ponto exato de equilíbrio entre um copo e 2 garrafas deste aguardente de Baco para que nos faça bem e não mal, isto é Sabedoria! Será que nosso sistema de ensino vigente está preparado para nos educar a encontrar este equilíbrio?

Anônimo disse...

Apenas uma pequena observação:
The easy way out é uma opção que não pode ser separada de um princípio universal e muito correto chamado KISS (Keep It Simple Stupid - sem ofensas, é o nome do princípio).
Por meio do princípio KISS é possível resolver problemas da maneira mais eficiente, econômica e transparente nas mais variadas áreas.
O princípio KISS é inimigo da Burocracia, da Corrupção e dos "enrolões".
Porém, a the easy way out deve ser utilizada com critério dentro do princípio KISS (que por sua vez pode ser utilizado como critério para a utilização da the easy way out).
Fazer a coisa da maneira mais simples possível até o limite onde essa simplicidade não prejudica a eficiência.
Utilizar a the easy way out sem critério algum leva às long hard roads out of hell: medidas simplistas que causam mais problemas do que benefícios. Mas ai não se tratam de soluções (ou way outs) e sim gambiarras.