
Acho que essa mania de grandeza vem da minha mãe. Ela escrevia para o Presidente Getulio Vargas para resolver problemas de aposentadoria das amigas. E dava certo. Sempre recebia resposta positiva.
Faz alguns anos esta historieta. Eu havia comprado um CD-ROM sobre cinema, produzido pela Microsoft, numa loja em Porto Alegre, sob encomenda. Paguei adiantado e me deram um prazo para entrega. Quando se passaram os dias prometidos, telefonei para a tal loja e me disseram que o CD-ROM ainda não havia chegado. Pedi que me informassem do andamento do pedido. Quinze dias mais tarde telefonei novamente e não tinham informação outra a não ser que estava atrasada a remessa. Havia, ainda, para tornar tudo mais irritante, além do descaso, uma certa arrogância no atendimento, como se eu fosse um chato em exigir os meus direitos. No entanto, ao invés de ir procurar a Defesa do Consumidor, procurei na Internet o endereço eletrônico do Sr. Bill Gates, que, afinal é o dono da Microsoft, fabricante do CD-ROM e, indiretamente, responsável pela minha entrega. Escrevi para ele e disse que acreditava que ele, tendo chegado aonde chegou, deveria ser preocupado com a qualidade dos seus serviços, que sabia que era apenas um pequeno item, sem muito valor para os negócios da Microsoft, mas que era importante para mim e que ele, certamente, deveria estar atento ao fornecimento de todos os seus produtos. Cinco dias depois recebi uma resposta, assinada pelo Sr. Bill Gates (é claro que deveria ter sido escrita por um assessor), com cópia da mensagem enviada para a loja de Porto Alegre, exigindo providências imediatas. No dia seguinte, recebi o CD-ROM, por Sedex. O frete foi cortesia. Até hoje fico imaginando a cara do gerente da loja.
Quando conto esta historieta para os amigos, alguns riem e não acreditam. Meu concunhado Aderbal conta nas suas aulas na Universidade, mas os estudantes não acreditam. Pena que não guardei a cópia da mensagem.
Historieta 2:

Mercedes Sosa estava no aeroporto, sentada, quieta, de óculos escuros, como se pudesse esconder seu volume corporal. Mas sua estratégia de defesa estava a funcionar. Não havia ninguém na volta dela, a pedir autógrafos ou a puxar conversa. Sou fascinado por música e Mercedes fez parte da minha juventude rebelde, com sua voz poderosa, sua coragem política, sua coerência, seu bom-gosto de repertório, sua generosidade com os colegas. Eu olhava discretamente para onde ela estava sentada, pelas suas costas, para não ser indiscreto, mas tinha uma vontade enorme de falar com ela, perguntar o que estava a fazer, para onde estava a ir. Mas lembrava de uma cena no aeroporto quando Caetano Veloso desembarcava de um vôo em Porto Alegre e uma senhora o assediava insistentemente, deixando-o visivelmente chateado, mesmo sendo gentil com ela. Até que o homem dirigiu-se ao banheiro. E não é que a senhora foi atrás!? Fiquei observando, mas, felizmente ela retornou em tempo de evitar que eu pensasse que ela estaria acompanhando os trabalhos diuréticos do cantor. Desisti de abordar Mercedes. Lembrei também de uma situação que minha cunhada Eva contava: que tinha viajado na poltrona ao lado do Paulinho da Viola e não tinha, por respeito, trocado uma palavra com ele. Vai ver ele até ficou decepcionado por não ser reconhecido.
Quando entrei no avião, esqueci de Mercedes Sosa e fiquei relaxando, preparando-me para a decolagem. Depois, já no ar, levantei os olhos da revista que lia e percebi esta senhora muito gorda, saindo do banheiro do avião. Olhos rasgados de índia. Acho que meus olhos brilharam e sorriram para ela. Ela sorriu de volta, discretamente, com os olhos. Ao passar por mim, passou a mão de leve na minha cabeça, em silêncio.
Nem me importo se ela não tinha lavado as mãos...
9 comentários:
Oi Taba, quanto tempo!!! Já te falei que estou quase em Rio Grande?! To em Taquari, na casa de minha mae, curtindo um DVD que dei a ela do ultimo show da Elis na TV, de arrepiar!
Pois é, deve ter sido de arrepiar também o toque da Mercedes...
Na vinda para o Brasil, estavam sentados um na minha frente e outro nas minhas costas, esperando o vôo, Zeze de Camargo e Luciano... nada que valesse um suspiro de admiração, mas logo que foram descobertos, mesmo com seus óculos escuros, mas com suas calças justíssimas e seguranças gigantes, fotos discretas e indiscretas começaram a surgir, devo ter saído numas quantas, com uma cara de reprovação...
Mas acho que se um ídolo sentasse ao meu lado daria um oi, afinal, eles não são deuses intocáveis, já imploraram um dia por um público cativo, sonharam com autógrafos.
Lembro que um cara lá da FURG viajou do lado do ma-ra-vi-lho-so Tony Garrido, que o artista morria de medo de voar e ficava puxando assunto e que o cara nem tchum, teve então que o simpaticíssimo Robaldo trocar de lugar com o colega e servir de companhia para o ilustre, tão mortal como nós que inclusive tem medo de voar. Pena que não estávamos eu e minhas amigas nesse vôo...
Um grande abraço pra ti!
grrasi
Quanto à historieta 1 também fiquei com dúvida (tipo alunos do Aderbal... eheheh): ficção ou realidade? Depois refleti sobre o fato de não estarmos acostumados a agir e sermos vistos como cidadãos e cidadãs. Exigirmos respeito como consumidores, ou melhor, como pessoas, deveria ser habitual... O que ainda precisamos "viver" para assumir esta atitude - sem arrogância, mas por direito de fato?
Já a historieta 2... (não me refiro às "celebridades instituídas", mesmo que com nosso profundo e sensível reconhecimento)... Toda e qualquer pessoa pode se tornar "especial" - uma celebridade - aos nossos olhos. Quando se dá esta química, o encontro é divinizado. Neste momento, celebridade pra mim é a Dona Maria de Lourdes, que enquanto conversa com o sol, o vento, as estrelas e a chuva, tece sua colcha de retalhos na comunidade Chico Mendes, em Floripa. Esta mulher enfrenta as agruras da desigualdade social com teimosia e poesia.
A ela o meu reconhecimento.
A ti o meu abraço, "pessoa".
A do Bill Gates, V. já tinha me contado, embora nunca tenha mostrado a carta.
Quanto ao o fato de ninguém acreditar no seu concunhado é porque ninguém acredita mesmo em concunhados. Concunhados não existem.
A da Mercedes Soza é um tanto inverossímil. Será que era ela, mesmo?
Mas por que esse frisson pela presença de pessoas famosas?
Não é muito mais fantástico chegar a verificar que Salvador (ou Paris) realmente existe?
:-)
Saudações,
Celso R.
Cara, esta historieta levou me a reflexão da necessidade de idolatria do ser humano, como isso é importante, ás vezes me pego falando para todo mundo sobre a música de João Bosco, e isto faz tão bem, coisas da vidam, um abração e obrigado pelas revistas...
Oi Tabá!
Há pouco tempo fiz a compra de um cartão de memória para uma máquina fotográfica pela internet e para minha surpresa o cartão não funcionou. Entrei em contato (por telefone) com a loja e recebi a informação que tudo deveria ser feito por e-mail. Procedi como me indicaram (enviando o cartão de volta, por sedex pago por eles) e logo recebi um cartão novo. Achei o atendimento muito eficiente e em nenhum momento foi exigido nada de mim além do necessário. Digo isto para ilustrar uma situação que teria tudo para virar pesadelo e não virou. O que aconteceu foi que se criou uma relação de confiança com esta loja virtual.
Já na outra historieta, eu teria dado uma abraço na Mercedes, embora não dissesse nada. Sabes como é...não ia resistir.
Abraço!
grande Taba: buenas
muito legal as historietas.
o mais legal é que eu tenho a mensagem original e a resposta da loja (tambem original). mesmo quando eu conto e mostro, ainda acham que é falso. é mais um "causo" do aderbal. vou enviar para ti.
manda bala que está cada vez melhor.
aderbal
Hummmm eu sou da teoria de reclamar mesmo... se algo tá errado mando ver e espero resposta sim! E é maravilhoso quando somos bem atendidos não é mesmo? É assim que os impérios acabam sendo contruídos... qualidade, respeito e confiança!
Quanto ao segundo fato... hum eu não resistiria... Sou mais tiete... Só não falo se não curto mesmo!
bjos
Ahh, também tenho minhas (do anônimo) histórias de e-mails com celebridades!
A muitos anos sou fã dos Ramones e, algum tempo depois que a banda foi desfeita, enviei um e-mail para o Marky Ramone através do endereço que havia na página da banda The Intruders.
Na época eu ainda tinha muito o que amadurecer e, para resumir o e-mail, amaldiçoei muito o baterista por estar tocando em outra banda ao invés de, de alguma maneira, fazer com que os Ramones voltassem a existir.
Por incrível que pareça recebi uma resposta assinada pelo próprio Marky Ramone. Nela ele me amaldiçoava de volta e explicava seus motivos para seguir tocando em outra banda.
Como fã, fiquei completamente extasiado, mesmo tento sido uma troca de belicosidades. :D
Em outra feita escrevi um e-mail para o presidente da Wikipédia, de quem também sou fã por ter criado o meu site preferido e por conhecer pessoalmente a Aria Giovanni. O.o!
Ele me respondeu dizendo que estaria vindo ao Brasil com a intenção de divulgar a Wikipédia e perguntou se eu poderia espalhar a notícia.
Não tive dúvida: mandei diversos e-mail para várias revistas, jornais, redes de tv, etc...
Incluí todos os dados imagináveis: local onde ele iria palestrar, organização ligada à vinda dele para o Brasil, seus motivos, o que é a Wikipédia, etc.
Recebi apenas uma resposta, de uma jornalista da Radio Band. Nada mais...
Mesmo ela perdeu o interesse e parou de se comunicar.
Ao voltar para os EUA, o presidente da Wikipédia me enviou outro e-mail dizendo que estava bastante decepcionado pela falta de interesse da imprensa local.
Vários meses depois, a Wikipédia é matéria da capa na Revista Época, aparece em matérias da Zero Hora, etc...
Mais uma vez, a imprensa de massa brasileira fica ridiculamente atrasada.
Todos nós somos fãs de alguém. É algo saudável se espelhar em coisas que julgamos boas e que nos inspirem a almejar algo bom.
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