sexta-feira, outubro 27, 2006

Carta ao Presidente

Virá!

Impávido que nem Mohamed Ali

Virá que eu vi!

Tranqüilo e infalível como Bruce Lee.

Caetano Veloso – Um Índio


Senhor Presidente:

Escrevo-lhe esta carta, que o senhor lerá, talvez, se tiver tempo.

Acabo de receber meus papéis eleitorais, para ir votar neste próximo fim de semana. Senhor Presidente, eu gostaria de não ter que fazer isto. Não estou sobre a face da Terra para ajudar a enganar as pobres das pessoas.

Não acredito no senhorquer o senhor se chame Luiz ou Geraldo.

um ar de arrogância em sua atitude, um ar de messianismo, um ar de pretensão, um ar de onipotência, que me levam a crer que o senhor se deixa influenciar por seus bajuladores-assessores.

muito que lhe observo, Senhor Presidente, e percebo que o senhor, ou acredita ingenuamente, que possa resolver os problemas do País através de técnicas econômicas, ou o senhor vem mentido para todos e até para si próprio.

O senhor se travestiu de várias formas para ser aceito: foi ditador militar, foi acadêmico medíocre, foi um ator paranóico e safado, foi professor universitário pedante, foi torneiro-mecânico de falsa ingenuidade. O que estes disfarces tinham em comum era que em todos eles o senhor se apresentou como o Salvador do Brasil. Mas não lhe aceitei, pois consegui enxergar através de suas máscaras.

Nãosalvadores da Pátria e o senhor, portanto, não é um.

Quando eu perceber humildade verdadeira – não produzida pelos seus assessores de imagemquando eu perceber sua vontade de delegar às pessoas suas próprias escolhas – e não lhes impingir uma falsa sensação de estar escolhendo – quando eu perceber que a Educação e a Cultura passaram a ser suas prioridades absolutas – e não a Economiaeu acreditarei no senhor.

Nesse dia, o senhor poderá se apresentar com sua imagem normal, que pode ser a de uma pessoa tranqüila, mas falível, que admite ter erros no passado de um ser humano comum, não um impávido colossonenhum superstar, nenhum super-homem, nenhum Mohamed Ali, nenhum Bruce Lee, nenhum Messias, descendo de uma estrela colorida brilhante.

Nesse dia, o que o senhor terá de diferente é que o senhor ouvirá mais do que falará, não apresentará soluções mágicas, como se soubesse e quisesse verdadeiramente melhorar a qualidade de vida da população.

Nesse dia, o senhor nos apresentará, sim, o seu principal assessor: o Ministro da Educação e Cultura, que não será nenhum intelectual arrogante e calculista, nenhum fantoche político, nenhum economista frustrado e premiado com um cargo. Porque, nesse dia, o senhor não mais estará preocupado com resultados imediatos, com efeitos na janela de tempo de seu mandato.

Nesse dia passarei a ter esperanças.

12 comentários:

Anônimo disse...

Caro Taba,
normalmente leio teus textos, mas não tenho tempo (vida agitada de professor, tu sabes o que é!, com planos - que são postos em papel - correções - que são feitas - novas metodologias - que são aplicadas, testadas, avaliadas - etc.) para inserir um comentário. Mas hoje, é impossível deixar de fazê-lo.
Concordo plenamente com tuas palavras, e assino embaixo, com a sensação de tristeza por não ter tido tempo de redigi-las antes ou junto contigo.
É isso mesmo, amigo: o Brasil que pensa, aquele em que a esperança vencera o medo, hoje está atônito perante tanta mentira, tanto engodo, tanta dissimulação. Sem falar em mal-caratismo...
Eu também, amigo, como tu, sonho por um presidente que seja cônscio de suas resposabilidades sociais, em que a educação ocupe prioritário lugar. Em decorrência dela, virá a saúde; da qual decorrerá a segurança, produto da identidade de uma pessoa que se sabe cidadão respeitável e respeitado.
Eu também, amigo, estou cansada de ser enganada...
Eu também, amigo, penso no amanhã com utópica visão de que talvez, não para a geração de meus filhos, já adultos, sequer de meus netos, uns até adolescentes, de descendentes remotos, talvez..., um dia, as coisas mudem, e a sociedade brasileira seja menos dividida, mais esclarecida, mais solidária, e menos iludida com propostas pífias, em períodos eleitoreiros.
Obrigada, Taba, por fazer circular tua carta na tua taba. Agora, já é nossa. Um abraço distante mas constante,
Hilda

Anônimo disse...

É sempre um prazer ler teus textos, sempre ágeis e diretos, pois acabas dizendo aquilo que muitos de nós, pobres brasileiros, mortais, trabalhadores, gostaríamos de ter dito.
Parabéns,
João Fernando Pozzi

Anônimo disse...

Olá dindo Tabá!
Gostei muito do texto, e entendo tua posição, teu desânimo e descrença política. Mas eu ainda tenho esperanças, talvez seja pela minha juventude e pouca vivência, mas ainda acredito que políticas em prol do país e de seu povo possam ser feitas, ainda que a passos tímidos e pequenos.
Beijão!

Anônimo disse...

Ai professor parabéns, sabias palavras. A coisa não anda nada bem e mesmo assim parece que o brasileiro tende a optar pelo erro. Meu Deus, vamos ser conscientes pelo menos uma vez. Um grande abraço. Eu o pai e mãe somos fãs de tuas palavras.

Jaque Machado disse...

Taba,

Posições políticas são indiscutívelmente opções de verdade as quais aceitamos por engodo, conveniência, ignorância, irresponsabilidade, ou pura e simplismente por simpatia. Acredito que o passado existe para que possamos construir um futuro parcimoniosamente pensado. Para que possamos alicerçar nossas escolhas, em se tratando de cidadania, tendo como ponto de partida experiências passadas. Entregar o governo À social democracia por mais quatro anos é permitir voltar atrás, regredir. Fortificar mais uma vez o conluio da extrema direita, aqui representados pela bandeira do impiedoso neo-liberalismo, com a midia maniqueísta. Permitir este retrocesso é alijar a caminhada da democracia ao seu ideal.
Boudieu tem razão quando postula que a arbritariedade da produção simbólica na vida social -através da mídia por exemplo- no que tange ao carater legitimador das forças dominates, as idéias por assim tornarem-se parte de uma verdade inventada. A verdade por fim torna-se aquilo no que acreditamos; no nosso exemplo por meio indutivo exógino, ou seja, reprodução de inverdades. O que ocorre por detrás dos bastidores do poder, certamente esta muito além do que a nossa capacidade de esquadrinhamento alcança. Estamos à mercê de fontes informativas manipuladas direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, cujas noticias reproduzimos sem estar a par da totalidade dos fatos; não conseguimos saber ao menos quem mente ou quem fala a verdade: não sabemos da verdade.
Por enquanto contentemo-nos em selecionar o menos vilão. E quando pensarmos como construtores da cidadania, e não meros eleitores, talvez tenhamos um sitema governamental condiscente com uma mentalidade política não simplismente diferente,mas apenas desperta.

Um grande abraço, da sumida
Jaque Machado.

Anônimo disse...

Olha só, o FHC também cita o Caetano... cuidado.
Sou mais o Chico.

Anônimo disse...

Tabac

Isso que a Jaque falou é um discurso velho e surrado da esquerda. A política do lula nesses quatro anos foi tão neo-liberal como a do FHC. Tanto que antes era fora FMI e agora eh pagamos o FMI (dito com orgulho. Lula e FHC se (re)elegeram com o lance das bolsas. O PT tentou aprimorar a safadeza que jah sabia existir no governo FHC. Soh que foram um pouco burros, deixando o rabo de fora. Fui eleitor de lula. Hoje tapo o nariz na hora de apertar os botoes. Nao acredito em esquerda e direita. Quando pegam o poder sao iguais. Ainda mais quando na origem sao corruptos e safados. Só queria ter a chance de votar em gente honesta, pouco importando o lado. Nesses proximos 4 anos, pêsames para nós brasileiros, pouco importando quem ganhar.

Um abraço

Osmar

esperanca disse...

Oi Tabá!

Concordo contigo e assim sendo, com o Osmar também.

Pode pôr meu nome nessa carta. Assim ela vai com esperança.

Abraço!

Celso R. disse...

Lula cada vez mais se parece com um coronelão nordestino de boa dentadura. Seu sorriso simétrico seduz os miseráveis que gravitam no entorno da casa grande. E, hoje em dia, o entorno vai bem longe, via rádio e TV. Como num efeito Morph, FHC virou Lulla.

Bem, dessa vez, nenhum deles poderá me fazer me arrepender. Votei no número 51, uma boa idéia.

Saudações,
celso R.

Anônimo disse...

Taba

Eu só posso concordar com o Celso. Uma pergunta que faço pois nao vi comentários na imprensa: o lulla(lá) com a camiseta com a bandeira e a mensagem escrita nao te lembrou Collor de Mello??

Abracos franceses a gauche et a droite

Osmar

Anônimo disse...

Continuo contemplando o socialismo como "aquela estrela" que guia meus caminhos. Já sofri muito (ainda sofro - mas juntar "os caquinhos" traz novas perspectivas) com o desmoronamento da filosofia petista... e o pior foi olhar o rosto atônito e triste de minha filha adolescente perguntando "e agora?" ao admitirmos que a administração petista "usava" os mesmos "truques" da direita. O que poderia responder para ela (que "antes" me acompanhava nas passeatas, campanhas, comícios, carregando bandeiras, e "na crença")? O grande ensinamento me veio com a percepção de que as instituições (ideologias, partidos políticos, etc) estão em crise em função do neo-liberalismo que se fortalece, mas ainda acredito na possibilidade da revolução no micro, em cada sujeito, em cada cidadão, na possibilidade de travarmos relações de respeito e cuidado com o coletivo e com o cosmos, partindo de nossa singularidade. No 2º turno votei novamente no Lula... Nostalgia? Teimosia? Falta de perspectiva? Voto útil? Medo de entregarmos o Brasil para os "mais" neo-liberais? Talvez tudo isto junto. Eu? Tratando de me "revolucionar"... depois de ter aprendido que ninguém individualmente, sob hipótese alguma, poderá transformar nada. Precisamos aprender a ser coletivo... esta é a estrela que continuarei perseguindo... por mim, por minha filha, pela VIDA.

Anônimo disse...

Por falar em música, ao ler os comentários do Osmar lembrei desses versos:

"Tudo que a antena captar
Meu coração captura"

É o JN formando opinião.

lol