sexta-feira, agosto 18, 2006

Instruções ao Professor Universitário

Do Princípio Fundamental: Ao pensar sobre sua profissão, estará o professor universitário consciente de sua responsabilidade na formação dos cidadãos de sua Pátria, dos futuros profissionais, construídos e lapidados por sua presença inestimável nesta Terra. Estará cônscio, ainda, de seu poder ilimitado, decorrente da responsabilidade que lhe pesa sobre os ombros e, por isso, não deverá vacilar em utilizar todos os meios necessários para inculcar em seus discípulos os valores corretos, além dos conhecimentos que lhes deposita.

Das Relações Pedagógicas: É boa prudência que o Mestre – palavra genérica aqui empregada, mas que inclui os professores doutores – ao entrar em contato com sua turma, não se dê ao desfrute de tratá-los por nomes próprios. Os alunos costumam utilizar as mais diversas artimanhas para evitar o estudo e a compreensão dos assuntos importantes. Entre elas é corriqueiro que tentem fazer amizade com o Mestre, para daí levar algum tipo de vantagem nas avaliações. Tratá-los por nomes indefinidos ou números, mantendo a distância pessoal e a indiferença, fará com que sejam tomados de um temor pedagógico, que os fará levar mais a sério a palavra do Mestre.

Da Motivação: No primeiro dia de aula, é bom alvitre que o Mestre previna seus pupilos da dificuldade de serem aprovados em sua matéria. Deverá citar estatísticas de anos anteriores e avisar que sua disciplina é normalmente cursada duas vezes, no mínimo, pelos alunos. Tal providência terá dois efeitos: alguns estudantes, menos seguros, irão desistir – o que dará menos trabalho ao Professor, no que ficará livre para produzir seus importantes trabalhos pessoais – e também fará com que os remanescentes estudem muito mais.

Da Disciplina: Sendo óbvio que o Professor é elemento principal nas relações educativas, sua sabedoria não deve ser questionada. Quando algum aluno, mais saliente, interromper o raciocínio que está sendo elucidado, com perguntas quaisquer que sejam, deve ser tratado com o devido rigor. Se necessário, o Professor deve utilizar termos bastante fortes, deixando clara a ignorância do pupilo. Desmoralizá-lo perante os pares é um santo remédio. Caso seja um recalcitrante, um obstinado, deverá, neste caso, ser ameaçado com expulsão da sala de aula e até mesmo com punição na próxima avaliação.

Da Avaliação: O aluno teme a nota baixa. Assim, as notas são as moedas de pressão do Professor. Ele deverá manipular seus alunos, com estas notas, para que obedeçam e concordem com ele. Existirão muitas maneiras de manipular notas. Dada a autonomia do Professor Universitário, uma forte estratégia pode ser executada na ocasião de elaborar as temidas avaliações. Deverá o Professor ter à sua disposição uma farta bibliografia de exercícios impossíveis, os quais utilizará sempre que houver necessidade de controle da turma. Há ainda a possibilidade de corrigir as respostas de modo rigoroso, com profunda exigência com aqueles desobedientes e rebeldes. Há ainda a possibilidade de, no recesso da sala de permanência, alterar as respostas corretas dos rebeldes para respostas erradas e absurdas, de modo que eles não possam recorrer a professores liberais inconscientes, com pedidos de revisão de prova. Aliás, a insolência do pedido de revisão de provas deve ser tratada de forma dura, com autoridade, pois é o pupilo, mero aprendiz, colocando em dúvida a palavra inquestionável do Mestre. Este aluno insolente não deverá ser jamais aprovado na disciplina, deverá ter descontada, em suas provas, a falta da menor vírgula. No entanto, a revisão de prova em si não lhe deve causar maiores transtornos, pois é feita pelos colegas professores, os quais sabem que poderão estar na mesma situação mais tarde.

Das Disposições Gerais:

a) Caso haja algum movimento de reação contrária por parte dos alunos, como costuma acontecer com os professores mais rígidos em seus princípios educativos, poderá o Professor refugiar-se na diretoria do sindicato classista, no qual a presidência goza de uma espécie de imunidade parlamentar, até que passe a reação.

b) Se for acusado injustamente de assédio a estudantes – em geral decorrente do fascínio que ele(a) exerce sobre o sexo oposto – o Professor terá sempre a possibilidade de complementação de estudos no exterior, até que o caso seja esquecido.

c) O relacionamento com o chefe imediato não deverá postar problema ao Professor, uma vez que, sendo o cargo transitório, nenhum chefe, por prudência e inteligência, deverá destratar algum colega seu, já que este poderá, futuramente, ser seu chefe.

d) Em situações humanas em que o Professor não preparou com eficiência suas aulas, ele poderá contar historias relacionadas às suas fascinantes experiências pessoais ou falar de futebol, descontraindo o ambiente. Caso necessário, poderá até mesmo inventar pequenas balelas científicas. Em caso de perguntas embaraçantes ele poderá inventar criativamente suas respostas, pois os alunos jamais se dão ao trabalho de conferir – e, se isso ocorrer, deverão ser desmentidos peremptoriamente, pois é a palavra do Mestre contra a palavra dos aprendizes.

e) Funcionários da Universidade deverão ser solenemente ignorados.

9 comentários:

Anônimo disse...

Minha Nossa!

Em quem você se inspirou?

elarrat

Anônimo disse...

Que isso, um Taba pelo avesso??
Pior que alguns professores vao ler e se identificar em alguns dos ítens...
Eu farei de tudo pra nao ser assim, cruzes credo!
beijao da grasi

Tabá disse...

Sei lá, são tantas as inspirações...

O pior que tem gente que pensa que não é sátira... "é, mas tem coisa aí que tá certo"...

Anônimo disse...

Que bom ver um Taba com tanto humor!
Isso sempre acontece quando a gente está de bem com a vida!

Malaquias

Anônimo disse...

hehe, em quem te inspirastes Taba???
Pior que quando paramos pra pensar ainda achamos esse modelo de teacher!!
Bjs
Tifani

Anônimo disse...

Em minha experiência acadêmica, tive muitos professores regidos e movidos pelas tuas "instruções"... já andaste viajando por aí, criando escola??
Um toque indispensável aos professores (mestres, doutores, pós-doutores) é agir com ironia e prepotência (porque detentores da VERDADE) diante da "não-cultura" de seus alunos/as... assim estes nada têm a fazer senão resignar-se a sua insignificância. Mas a maior e melhor instrução é que devem fazer de conta que ensinam e exigir de seus pupilos que façam de conta que aprendem... PACTO valorosíssimo!!! Mais cômodo!
Se orientador de mestrado/ doutorado, deixe seu orientando o mais abandonado possível, enquanto se acupa da sua titulação - afinal de contas a instituição assim o exige. Ah! Importantíssimo: só aceite orientar as pesquisas que favorecem a sua titulação... Lembre-se: qualidade total!!!!
Não pegue orientandos com experiência/prática/certa militância... estes ameaçam sua comodidade social. Quem foi que inventou esta baboseira de extensão universitária? Só podia ser algum anarquista infiltrado... Se der conta de enrolar seu orientando até a defesa da tese/dissertação, lembre-se: dispute sua VERDADE com os demais professores da banca, ignorando o orientando... e se preciso, alie-se a eles para colocar a CULPA pelo trabalho medíocre exclusivamente nele (vcs não construíram nada mesmo!)... Relaxe! É culpa do sistema! E não se atreva sob hipótese alguma a compreender o contexto e os sujeitos da pesquisa de seu orientando... muito menos o próprio orientando... pode ser comprometedor, ainda mais se isto representar enfrentar a realidade da periferia, o caos, as desigualdades e a percepção de que seu orientando é uma pessoa, tem uma história, uma identidade. Cuidado, muito cuidado!
Proteja-se sempre!!!
(ai, ai, ai!!!)

Anônimo disse...

Meu Deus... pior que já vi muito disso aí! beijooos

Karen Lose disse...

Conheço vários assim...passei pela mão de alguns, ouvi boatos de outros e recebi algumas dessas instruções na faculdade!!! E, com toda certeza, vai ter gente que vai achar que alguns tópicos são bem pertinentes! É isso aí, aluno bom, é aluno reprovado! hehehe! Beijo, Tabá!

Anônimo disse...

De todas as coisas que li neste post que e considerei como profundas bobagens, acredito que a mais perniciosa delas foi a que diz respeito sobre a Motivação. Se todos os professores compartilham de uma visão tão simplista quanto à motivação do aluno, o problema de educação no país estará então elucidado.
Os professores não deveriam realmente preocupar-se quanto à motivação, pois esta deveria vir com o aluno, juntamente com seu desejo de aprender sobre questões que lhe dizem respeito.
Daí o fato de se tratar de um curso de nível superior, onde subentende-se que o aluno já fosse capaz de pensar, elaborar perguntas e buscar respostas em diferentes níveis de complexidade.
Aprende mais aquele que pergunta a sí mesmo e busca a resposta do que aquele que é coagido a gerar perguntas.

BTW: não conheço o Prof. Tabajara.