Nesta onda de nostalgia em que se vive, talvez com saudades de tempos melhores, publicam-se almanaques recordando detalhes de outras épocas.
Fiquei pensando como será o Almanaque destes tempos atuais.
Saudades do futuro...
Bug do Milênio – Quando trocou o século, previram-se grandes catástrofes por conta dos computadores, que não iriam entender a virada do ano de 1999 para 2000: aviões iriam despencar ou atravancar os aeroportos, riscos de acidentes com carros, hospitais, bancos, todo o sistema econômico. O Bug do Milênio deu “chabú”, não aconteceu. O ano entrou modorrento, sem excitação alguma, a não ser o esperado marketing televisivo.
Pagodão, sertanojo e outras agruras musicais – A classe média resolveu aderir aos desgostos da classe popular e caiu de boca no pagodão, gênero alterado do pagode de raiz, mas com letras pegajosas, óbvias, às vezes machistas, mas sempre de muito mau-gosto, falando com falsidade de amores perdidos, mulheres sacanas e dor-de-corno. Havia ainda o famigerado sertanojo, gênero derivado do sertanejo de raiz, misturado com country americano. As vozes das duplas mantinham a combinação das velhas duplas sertanejas e caipiras, no entanto, falavam de dor-de-corno, com falsidade de amores perdidos etc. Os rapazes destes gêneros viraram ídolos, com direito a mega-shows, autógrafos em tietes. O lado positivo destes movimentos foi ser, afinal, música brasileira e de ter amolecido o preconceito racial. As meninas brancas começaram a namorar rapazes negros com bastante naturalidade, o que contribuiu para o fortalecimento da espécie.
Bifê Aquilo: Os restaurantes com comida por peso popularizaram-se, quase assassinando os restaurantes à la carte. Filas de pessoas com seus pratos aglomeravam-se em frente a balcões cheios de comida pré-pronta. Não sem muita freqüência, salivavam em cima dos pratos enquanto falavam entre si, o que parecia não importar aos outros clientes. Tomavam-se cervejas sem gosto algum.
Cigarro: O fumo foi praticamente abolido dos lugares públicos. Passou a ser proibido fumar em lojas, restaurantes, shoppings, escolas, salas de reunião etc, para desespero dos fumantes. Mesmo assim as plantações de fumo não foram proibidas, nem a produção de cigarros. As mulheres passaram fumar bastante, achavam chique e ousado.
Telefone celular: Foi uma época de explosão dos telefones pessoais portáteis. Todos queriam um modelo mais atualizado, com câmera fotográfica ou filmadora, acesso à Internet e até mesmo com capacidade para telefonar. Isso trouxe uma nova praga social, substituindo a dos cigarros: os berrões. O berrão atendia o seu telefone em lugar público como se fosse sua casa. Dividia com todos seus assuntos. Não havia lugar sagrado para ele, nem cinema, nem ônibus-leito. Ao invés de espalhar fumaça, passou-se a espalhar grito.
Bonés: Por algum razão inexplicável, muitos homens começaram a usar bonés de aba. Em geral com a aba voltada para trás, o que não protegia os olhos do sol, como era recomendado pelos médicos, devido ao forte perigo pelo buraco na camada de ozônio. Aparentemente todos queriam ser diferentes, usando o boné de um modo diferente. Eram todos iguais.
Internet: a rede mundial de computadores virou um vício. A comunicação deu um salto imenso. O inglês virou uma espécie de esperanto. Ninguém dominava até então a rede, que era anárquica. Na Internet havia "spams". Os “spams” eram mensagens eletrônicas não desejadas. Eles entupiam as caixas postais, em geral para propaganda de um produto ou serviço. Muitos aproveitavam para enviar programas espiões disfarçados de propaganda para roubar senhas de internautas incautos. Mas havia outros tipos de “spams”: telefonemas para as residências feitos por empresas de tele-marketing oferecendo de tudo, normalmente serviços bancários ou de telefonia. A praga tinha a particularidade de ser falada de um modo chamado, na época, de “gerundismo”: “Vou estar entrando em contato com o senhor em seguida” – supostamente chique, já que norte-americana. Na época era chique ser norte-americano, pois os Estados Unidos da América eram, então, uma potência global, como haviam sido os romanos. Muitas lojas e bares imitavam ridiculamente a forma inglesa: Tonho’s ou faziam “sale” ou “off”.







Com o advento dos blogs, qualquer aventureiro virou escritor, tornando seus amigos leitores forçados de seus textos impublicáveis...
13 comentários:
Amigo Tabajara,
Gostei muito. Realidade com boas pitadas de humor. Tenho certeza de que em breve poderemos contar com novas adições ao Almanaque, pois há muito ainda a comentar.
Um abraço
Theodoro
Ah... esta nostalgia poderia também se direcionar para o jogador de futebol latino, globalizado pelo ingresso nos times europeus, portador do famoso brinquinho de diamante (diga-se de passagem, adquirido por míseros 250 mil reais) a magnetizar a mídia mundial.
Teremos saudade da política marketeira nas eleições (campanhas publicitárias, showmício "sertanojo", ruas poluídas ética e esteticamente, esperanças desfeitas, trocas de partido, coligações...)?
Teremos saudade da "política da paz" norte-americana (aqui entra o mais recente anticristo estadunidense) no oriente médio?
Tô ficando deprimida... vou parar por aqui.
Mas com certeza vou relembrar e celebrar o blogdotaba.
Muita luz, meu amigo!!!
Ainda o Almanaque trará: colherinhas de café de plástico (bem pequeninas) que não mexiam nada; os guris e gurias dançando individualmente nas raves, como se os pares não existissem; Florianópolis descoberta como o paraíso dos aposentados, suportando uma superpopulação, sem infraestrutura, acabando com o mangue; São Paulo em estado de sítio pelos bandidos; Ronaldinho ganhando milhões de dólares para encher o pandulho e engordar... e quem quiser que contribua com mais...
Acho que nunca vi uma musica brasileira tao ruim, virou moda a favela, o funk é a música do momento no Brasil. Patricinha cantando musica de favelado na maior cara de pau e achando lindo. Os gauchos querem ser pops, entao mil bandas gauchescas com gitarras e gaitas, achando que cantar rock de forma grosseira, é gaucho macho moderno cantando. CD unpluged MTV, parece que os nossos cantores tiveram uma parada criativa, e a uns 3 anos eu acho, só o que dava era gravar CD ao vivo ou o tal unpluged nos estudios da MTV, musica nova que é bom, nada... MP3, ninguem escuta mais fita, agora é só tocador de mp3 que todos tem. Terrorismo e Aquecimento global, só o que vejo na TV. Filmes do Valter Sales mostrando o lado pobre do Brasil. Ta certo que a gente tem que ver o Brasil no seu lado maioral, mas o cinema brasileiro começou o seculo meio estilo documentario, pulou da chanchada da para a verdade nua e crua e é só os que os gringos olham do nosso cinema, acho que elas acham meio exótico ver nossa miséria. Mas acho que nesses ultimos 2 ou 3 anos uma nova geracao de filmes brasileiros esta chegando. Chapinha, toda mulher tem que ter cabelo lisésimo e nao precisa ir ao cabelereiro, faz chapinha em casa. Exposicao na internet, quase todo mundo tem orkut, blog de texto, blog de fotos, todos querem mostrar um pouco de si, mas tambem detestam quando tem seus blogs e orkuts invadidos (eu me incluo nessa). Realit show, big brothers de todos os tipos invadiram a tv, na floresta, numa casa, musical, de dança, artistas, gente comum. Nossa, tanta porcaria no meu tempo... ja comentei isso contigo taba, é tanta opçao que acaba nao se fazendo nada por completo, nao se tem mais tempo pra nada, pois sentar e curtir o por-do-sol virou perda de tempo... beijao da grasi
Acho legal! Ha algumas coisas ingleses que posso incluir, mas acho que nao sao bem relevantes em Brasil.
Um ponto: ainda tenho o mesmo telefone celular do que tive em 2001!!! Nao ha camera, filmadora, etc, mas ha funcoes que nunca utiliso mesmo!!! Utiliso o telefone, mensagems te texto e o despertador somente!
E as caras das "peruas" cheias de botox... tornando "eternos" os risos nada "monalísicos", ehehehe.
Passar mais tempo aguardando os aviões nos aeroportos do que atravessando os oceanos... e ainda nos enfadamos ao pensar nas caravelas e naus!
Ao ler este almanaque e ver aquela foto, tive reafirmada a sensação de que tudo está passando muito muito muito rápido. Isto é assustador. A descartabilidade do mundo contemporâneo nos devasta. Ainda bem que há algumas pessoas que fazem a vida da gente valer a pena, que fazem a gente se sentir viva, com o pé neste maluco real, como algumas primas e seus maridos, promovidos também à categoria de primos.
Abraço carinhoso
Oi! Cá estou novamente :), mto bom o almanaque hehehehe, sou suspeita pra falar né, adoro teus textos. Um grande bj!!
Esqueci de mencionar, pensei em fazer um vídeo usando teu texto do almanaque, vou te mandar um e-mail explicando melhor a idéia, o que achas??? Bjão
Taba
"Agruras musicais" foi demais...
Ainda haverá o Almanaque que dirá: "... do escritor Tabajara, chamado de 'Pai da Ironia'".
risos.
Um suuuper beijo da amiga, Jaque Machado
Taba
Sinto discordar, mas todos esses itens do Almanaque do Século XXI são do Século XX, a comecar pelo bug do milênio. Este século mal começou e não pode ser culpado pelo seu antecessor (parece o Lula falando do FHC).
Também discordo do pessimismo. Tudo tem vários lados, como tentastes mostrar. Só que o lado negativo saltou mais alto (e teve eco). Boa parte do que está ali só aparece por conceitos (ou preconceitos)e modismos da classe média brasileira. Por exemplo, fora de raves e de certos bares, em bailes, ainda se dança junto. No NE, com forrós, mais ainda. Eu poderia dizer que o rap (hip hop) é (este sim!!!)uma praga do século xxi. Mas tem caras que estão pegando isso e juntando ao jazz ou ao blues (Chris Thomas King, por exemplo), fazendo coisas muito legais. Eu me lembro de crescer na rua, jogando bola, bolinha de gude, pião (assim mesmo) et al. Mas o que aconteceria se me botassem na frente um jogo de computador como os que temos hoje?
Não creio que o passado tenha sido melhor. Certas modas e pragas sempre existiram. A gente é que filtra o ruim e lembra de maravilhosos anos que nem foram tanto assim.
Abracos metamorféticos
Osmar
Osmar:
Outro dia ouvi um cara num churrasco fazendo um rap local - de Rio Grande - e gostei muito...
Mas se eu falasse das coisas boas do Século XXI não ia ter muita graça...
Gosto, por exemplo, da Internet, de fazer um Blog, de falar de graça com amigos distantes, da TV de plasma, do Ipod, do MP3 e de muita coisa mais. Só que isso é poesia e eu queria rir um pouco.
Tem mais diversões mesquinhas em um blog do que apenas forçar os amigos a ler nossos textos impublicáveis... Um exemplo: comentar os textos impublicáveis de outros blogueiros da maneira que bem entender! (:
A propósito, pensei em todos os comments que fiz hoje e me dei conta que irás recebê-los sem nenhuma indicação de qual post originou qual comment. Em caso de confusão, sugiro apenas desconsiderar os comentários, já que são apenas um passatempo mesmo.
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