Chamem-se Tabajara num país com Rede Globo e verão o que é bom. Entre outros inconvenientes, trata-se de ouvir uma três vezes por semana a mesma piada. “Ah! O senhor que é o presidente das Organizações Tabajara...”.
Há quem não conheça, acreditem. Nem todo o universo assiste a Rede Globo. Por isso vou explicar para as minhas amigas da Suíça e da Inglaterra: temos aqui uma rede de televisão poderosíssima, pelo nível de audiência: a Rede Globo. Isso até mesmo vocês sabem. O que desconhecem é que há um programa humorístico semanal que inventou as tais “Organizações Tabajara”, para retratar a desonestidade do brasileiro. Seria uma empresa genuinamente nacional, daí o nome em tupi-guarani, que se aproveita da ingenuidade do povo para vender-lhes as mais absurdas idéias. Junte-se a forte audiência e a criatividade anárquica dos humoristas (que eu aprecio, diga-se de passagem) e temos um perigo.
Eis o perigo: a repetição semanal do bordão humorístico faz com que se produzam humoristas nos mais diversos locais onde passo. Acho uma graça fingida, para não ofender o pobre infeliz. Por que? Porque me sinto ofendido por tomarem meu santo nome em vão? Ora, ser precocemente calvo, baixinho ou magrinho (acreditem), já me tornou alvo de chacota antes. Fui calejando. Brincar com o meu nome, começou quando me chamaram de Taba ou Tabá – que eu adotei, por minha conta. Não é essa a razão. A falta de criatividade, a vulgaridade ou falta de originalidade da observação, é o que torna a tarefa pesarosa.
Minha amiga Marie-Claire, num comentário às minhas idéias, observa que “o humor é salvador”. Também acho. Vou ainda mais longe, aproveitando essa polêmica atual dos cartunistas dinamarqueses que ousaram desenhar Maomé: o humor para ser salvador e criativo não pode conviver com qualquer tipo de censura. O humor é anárquico por natureza. Anarquia é liberdade, incluindo aí a blasfêmia, que é liberdade religiosa. E humor se combate com humor. Não com censura.
Contradição? Eu não disse há poucos dias que ia parar de rir das piadas de negros, judeus mulheres e homossexuais? Não acabei de dizer que não acho graça quando falam das Organizações Tabajara?
Essas piadas, tanto como as que fazem com o meu nome, perderam a graça para mim. Pela vulgaridade, pelo preconceito embutido, por serem veículo de perpetuação da cultura discriminatória. No caso do meu nome, fica estabelecido que tudo que é genuinamente brasileiro é desonesto. E o povo brasileiro concorda. Rir dos negros por serem escuros, dos judeus pela sua cultura, das mulheres (porque mesmo? – na maior parte das vezes por homens que não querem reconhecer a superioridade delas) e dos homossexuais (pela sua opção) é tão bom quanto rir do tombo de um paraplégico na rua. Ou do tombo de qualquer pessoa na rua. Tem gente que se desmancha rindo e não consegue raciocinar para ajudar alguém que pode ter se machucado gravemente.
De resto, adoro o humor, inteligente, anárquico, questionador, que me faça rever, repensar. Não suporto é a burrice e a vulgaridade.
A propósito: os desenhos dinamarqueses pareceram-me apenas transgressores. Um tanto sem graça pela obviedade. Por tanta balbúrdia, acabaram tendo mais destaque do que mereciam.
sábado, fevereiro 18, 2006
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6 comentários:
"Veja que beleza
Em diversa cores
Veja que beleza
Em vários sabores
A burrice está na mesa
Veja que beleza !
Refinada, poliglota
Anda na direita
Anda na esquerda
Mas a consagração
Chegou com o advento
Da televisão
Da televisão
Da televisão",
Caro Tabá, recorro ao Tom Zé para comentar teu texto pois me preocupa quando certas questões são tratadas com burrice em lugar da criatividade (indispensável para o humorismo), pois trocam o riso -que faz bem-, pela agressividade que, na maioria das vezes, faz muito mal.
E aproveitando a oportunidade: Que saudade sinto daqui do METAMORFOSE, que me ensinou muito - com muito humor.
"Tudo tem limite".Escutamos isso desde que nascemos.São nossos pais,nossos avós,os amigos mais chegados,os nossos mestres.A criatividade humana,uma das maiores ou melhores características do animal homem-único animal simbólico,diga-se de passagem-deve ser livre mas responsável.eu devo responder por minhas obras de arte pelo que elas podem representar para as outras pessoas.Se eu não puder fazer isso,outras pessoas podem entrar em ação.As vezes até mesmo instituições.O humor é salvador como disse a Marie Claire,mas o que se tem visto há algum tempo na midia é um humor de baixíssima qualidade,avançando os limites do suportável.Acho fraquíssimo o"Casseta".Notem que é dificil conseguirmos soltar uma boa risada com êles.A Zorra é deprimente.Essas piadas que são mencionadas aqui e no escrito anterior são também velhas,gastas e cheias de maldade.Quando vamos avaliar vemos o ódio que está por trás dessas "bricadeiras" com os diferentes e de resto em menor grau,com todos.Semana passada assisti a uma prova em que cavaleiros exibiam as suas habilidades,em uma bela cidade perto daqui.Palmas e palmas para os ginetes elegantes e bonitos por mais imples que fossem as suas manobras...Foi só aparecer um moço baixinho,franzino,não muito bonito,com o cabelo comprido,nariz fino e pequeno,óculos de aro de metal que a plateia ato continuo começou a rir ,a gritar apelidos os mais diversos.Fiquei pensando.Pobre moço além da tensão natural da prova recebia de graça um peso de toneladas de... de que mesmo?
Mas, afinal, tu és ou não o presidente das organizações Tabajara?
Faz tempo que não assisto a um programa humorístico e realmente acho graça, isso porque (principalmente)a globo não utiliza "humor", mas piadas de duplo sentido invariavelmente preconceituosas, o que torna os programas de humor sem atrativos humorísticos. A maioria dos programas humorísticos brasileiros se utiliza apenas de apelo sexual, com muitas mulheres semi nuas e mais nada, o que na minha opinião não tem graça nenhuma. Taba, achei o texto muito inteligente. Espero que o povo brasileiro comece a analisar melhor aquilo que ouve e vê para que tenhamos menos preconceito em um país que já enfrenta tantos outros problemas não menos graves.
Caro Taba lendo seu texto sobre "chorei no meu primeiro dia de aula" fiquei pensando que na verdade a gente chora todo dia.
Caro Taba:
O humor é sinónimo de inteligencia, ainda que inteligencia não ande de mão dada com o humor. Em Portugal estamos a assintir a uma explosão do stand up em televisão, que por vezes se revela de muito mau gosto.
Fica ao seu critério uma passagem pelo meu Blog.
Parabéns pelo seu trabalho.
http://karrocel.blogspot.com/
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