quinta-feira, fevereiro 09, 2006

A Discriminação e o Silêncio

Hoje juntei duas informações que me tocaram bastante. Uma li na Veja: um ator negro dizia que era hora de pararmos de citar a cor das pessoas, quando nos referimos a elas. Pensei: é verdade. Não digo o meu primo branco, minha amiga branca. Por que razão tenho que dizer a cor da pessoa, quando ela tem um nome específico, como todo mundo. É claro que às vezes citamos uma característica física das pessoas para melhor defini-la: aquele gordinho ou aquele baixinho, careca. Mas, com os negros, raramente citamos outra característica física que não seja a cor.

Pior ainda fazemos com a opção sexual das pessoas. Citamos a homossexualidade, mesmo sem ter certeza de que esta é a opção da pessoa. E se fosse, em que isto ajuda a entendê-la?

Juntei esta informação com outra que me veio pela Internet: um texto excelente de João Ubaldo Ribeiro que diz ter encontrado o verdadeiro culpado pelos desmandos do País. E não era nenhum governante. O culpado foi encontrado quando ele próprio olhou-se no espelho. Querendo dizer que nós, cidadãos brasileiros, temos que parar de jogar a culpa de tudo que está ruim nos governos, temos que parar de esperar milagres dos governos. Temos que parar de esperar um novo pai dos pobres, um novo messias tupiniquim, um novo líder carismático. É hora de nos olharmos no espelho, tomar vergonha na cara e parar de fazer o que sabemos que é errado.

A discriminação é apenas uma arma de poder. Discriminar sexo, opção sexual, raça ou cor da pele é apenas um jogo econômico ao qual, muitos de nós, nos submetemos por necessidade de poder, para nos sentirmos superiores a alguém, para mantermos nosso status, por diversão ou por costume. Nossas brincadeiras inocentes com negros, judeus, mulheres ou homossexuais são uma forma de manter viva a cultura do poder sobre estes grupos.


A discriminação e o preconceito são formas estratégicas de eliminar a concorrência. Vejamos: as mulheres são inferiores, os judeus são inferiores, os negros são inferiores, os homossexuais são inferiores. Ei! Os baixinhos são inferiores, os carecas são inferiores. Quem mais? Quem mais? Ah! SIM! Os velhos são inferiores, os gordos são inferiores, os muito magros são inferiores, os espinhentos são inferiores. E dependendo do país, os latino-americanos são inferiores etc. Quem sobrou afinal para competir comigo? Pouca gente...

Confesso ser difícil me libertar daquilo que me ensinaram como verdade por tanto tempo. Um meme – um gene cultural. Confesso que faço esforço para enxergar as pessoas sem classificá-las em grupos discriminatórios. Mas também confesso que tenho conseguido. Fico satisfeito quando me dou conta. Saúdo a nova geração que, diferente da minha geração, está deixando os preconceitos de lado. Pode-se ver pelas ruas. Quando percebo tenho mais esperanças na viabilidade humana.

Prometo, de público, adotar o silêncio sobre palavras discriminatórias. Vou exercitar-me em não dizê-las, a não ser que sejam pedagogicamente empregadas.

Aos meus amigos queridos que me mandam muitas piadas sobre mulheres burras, "viados" ridículos, negros imbecis ou judeus sacanas, entre outras, sinto muito.
Por que? Porque essas brincadeiras não são tão inocentes e descompromissadas como parecem. Elas ajudam a manter essa cultura perniciosa. Elas ajudam a propagar o meme.

Há quem argumente que os negros, judeus, homossexuais e mulheres são, por sua vez, preconceituosos também, contra os brancos, os não-judeus, os heterossexuais ou os homens. Pergunto: quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? Pergunto ainda: o que é esse argumento? Ele significa que o argumentador não vai abrir mão do seu preconceito, porque o outro lado não abre mão do seu? Isso significa que a solução para o impasse está na mão do outro? Significa que nós devemos esperar que o outro lado pare de ser preconceituoso primeiro?

Não pretendo esperar que o outro lado acabe com a guerra. Eu parei.

Silêncio.

Não estou rindo mais.


(War is over, if you want to - John Lennon)


7 comentários:

Anônimo disse...

Mais uma vez, concordo contigo ! Mas não se deve perder senso de humor para qualquer situação nem para nos mesmos. O humor é salvador !
Marik

Anônimo disse...

Meu Primo tá botando pra quebrar.
Mas vamos lá.
Eu uso sim (com certeza de forma errada) o preconceito e a discriminação como defesa. Eu faço destas duas "qualidades" a minha arma secreta anti-....- anti o quê? ante o preconceito e a discriminação, ora bolas. Eu vivo na aldeia, no meio das feras tenho que conviver com elas e com suas armas.
Senão vejamos: eu sou Pelotense e moro em Brasília. No Brasil, e talvez no mundo, Pelotense é sinônimo de veado. Mas no resto do Brasil, Gaucho também é sinônimo de veado. Então eu "sou" veado e pronto né?
No restante do Brasil, ser Gaúcho também é ser arrogante, é ser nojento, ter o rei na barriga, violento no futebol, faz tudo para ganhar cada vez mais dinheiro etc. Neste caso sou uma besta né?
Sou também bisneto de Português e ouço estas ridículas piadas desde que eu nasci. Elas vem de todos os lados, negros, judeus, brancos, homossexuais, etc. Neste caso eu sou a própria burrice, né?
Sou funcionário público há 34 anos. Nunca ouvi dizer que o meu trabalho rende dividendos para a sociedade. Ladrão, vagabundo, marajá, come-dorme, etc.. Neste caso, só me enforcando né?

Então, caro primo, se você me ama vai me perdoar por usar estas tão perversas armas do preconceito e da discriminação. Posso um dia mudar, mas HOJE, elas fazem parte da minha sobrevivência.

Anônimo disse...

E a mulher separada? E o preconceito contra deficentes físicos? A falta de sensibilidade, de delicadeza, de educação e a exclusão que os órgãos gorvernistas e a sociedade usam as pessoas (os deficientes) é tão horroroza, tão desumana, que talvez um dia, quando tiver coragem, eu escreva sobre este assunto doloroso.

Anônimo disse...

Gostei muito da tua cronica...so faço um questionamento: Homossexualidade será opção?
Será que alguém acorda pela manhã e decide"Hoje vou ser homossexual" assim como decide que hoje vai colocar aquela roupa verde?
Infelizmente devo concordar que vivermos num mundo que se magoam por preconceitos bobos...

Anônimo disse...

Tomara que muitas pessoas leiam esse trabalho pelo que ele tem de esclarecedor mas principalmente pelo que indica como caminho a ser seguido.Como sabemos que as nossas atitudes dependem de outras "forças"nem sempre ao nosso dispor é sempre importante mostrar uma ou mais saidas para essa postura tão antiga como o homem mas nem porisso tão repugnante-a discriminação.O esforço consciente para enfrentar digamos assim esta postura,essa atitude que muitas vezes sai sem nos darmos conta é deveras salutar.Eu já fazia um esforço para não participar de falas ou atitudes discriminatórias mas agora vou revitalizar esse esforço.Gordinhos,baixinhos(as duas coisas juntas,Nossa Senhora),carecas,não bonitos(feios nem pensar)afro-brasileiros,judeus,homossexuais,pobres,todos eles sofrem muito e não têm como escapar.Considero-me engajado no silencio diante do deboche ligado a essas pessoas.Oswaldo J.P.Barbosa.

Anônimo disse...

Prof. Tabajara

A algum tempo deixei de ler com antenção notícas de veículos comerciais de informação, devido ao fato que estas informações são cíclicas, ocorrendo sempre da mesma forma em periodos distintos da história. Comecei então a dedicar-me as colunas destas mesmas fontes informativas, visando ler pontos de vista de pessoas que tem algo a mais a relatar, o que torna o acesso um pouco difícil, já que poucos são os que tem algo a dizer.
É gratificante, ter acesso a mais esta coluna, que nos traz um pouco das ideias do grande ser humano e educador que foi e sempre será.

Parabéns.

Karen Lose disse...

Querido Tabá...adorei teu texto e assino embaixo! No meu primeiro dia de aula com meus alunos, fiz questão de deixar claro que não admitiria, em hipótese alguma, disciminação e preconceito de nenhum tipo: de raça, de credo, de opção sexual, de gênero,...
99,9% dos meus alunos acharam isso ridículo...poucos foram os que concordaram com a "louca" professora.
Aqui na região onde estou morando (vale do itajaí), o preconceito é algo "cultuado"!! Negros, índios, homossexuais, mulheres, gaúchos, rockeiros, punks, pagodeiros,...devem ser todos "eliminados". Por mais incrível que possa parecer, existem muitas pessoas que acolhem e cultuam aqueles ideais tão conhecidos de Hitler e seus seguidores. Isso está tão enraizado que por muitos é visto como "cultura".
Por tanto, meu amigo, tenho que te dizer que os jovens não estão tão libertos desse tipo de pensamento como é possível achar...infelizmente ainda temos um grande caminho pela frente...mas vamos lá, que a caminhada é boa!! Um abração, Karen.