quarta-feira, novembro 28, 2007

Clapton e Gilmour

Para quem não é versado em rock: Eric Clapton e David Gilmour são dois guitarristas ingleses. Gilmour fez parte da famosa banda Pink Floyd. Eric Clapton iniciou sua carreira em bandas como The Yardbirds e Cream, mas projetou-se mesmo em carreira solo. Clapton foi considerado um deus da guitarra. Gilmour tem sua legião de fãs, mas que não o considera deus.

Clapton é matemático, preciso e racional na sua técnica. Faz solos rápidos com uma precisão assustadora. Suas notas saem limpas e nítidas – sem exceção aparente, para os ouvidos normais.

Gilmour é estatístico, lânguido, intuitivo e preguiçoso. Parece ser difícil falar em técnica quando nos referimos a ele. Melhor dizer estilo. Não me lembro de solos rápidos dele. Aparentemente não os faz, porque não sabe, porque não quer, porque não se interessa. Seus solos de guitarra são longos e emocionais.

O que aprendi é que o racional, que faz parte do que se pode chamar de cérebro novo, é relativamente recente na evolução humana. Aparentemente o processo é assim – que me socorram os entendidos do assunto: o que aprendemos durante o dia é armazenado em memória de trabalho (a nossa memória RAM) e, durante o sono, é repassado para as nossas memórias de longo prazo (a nossa HD) e vira aprendizado. No entanto, apenas nossos aprendizados eficientes, em termos de serem de utilidade evolutiva, são repassados para a espécie humana. De modo que a nossa biblioteca intuitiva, a que é provinda da evolução da espécie, é constituída de uma quantidade de informações assustadoramente maior e mais eficiente do que a biblioteca racional, que é recente, temporária e não testada ainda em termos evolutivos.

É claro que, então, a biblioteca evolutiva depende da biblioteca racional em sua construção, assim como a Estatística depende da Matemática. Gilmour certamente admira o trabalho técnico de Clapton e vice-versa.

Mas, o que me impressiona, é a escolha de Clapton para deus da guitarra. Seria a escolha do deus racional, da precisão e segurança matemática?

Clapton lançou sua biografia, onde, dizem os analistas, é bastante duro consigo mesmo. É de se esperar de um artista cuja técnica só pode provir de disciplina ferrenha, de uma dureza consigo mesmo, quando os dedos começam a sangrar de tanto procurar obsessivamente a nota correta,.

Enquanto isso na sua cama, Gilmour, imagino, dorme, para se abastecer de energia para o show do dia seguinte. Ficarei surpreso em saber sobre o dia em que lançou sua biografia.

“Ah... escrever... dá uma preguiça...”

4 comentários:

esperanca disse...

Legal Tabá!
Lí teu texto enquanto escutava Neil Young, pura coincidência escreveres sobre aprendizado dando como exemplo essas feras da boa música e eu aqui escutando (estudando) e pensando no porquê das coisas não estarem dando certo - específicamente em Educação -, mas percebo que não estão dando certo em muitas outras esferas também. Seria por essa pressa dos dias atuais? Será que estamos vivendo de nossa memória virtual? Me parece que nessa correria, se armazena muito pouca coisa significativa...sei lá.
Abraço.

Anônimo disse...

Tabá

Só entrando na parte superficial do teu texto, é do David Gilour o solo de guitarra considerado o número 1. "Confortably numb do the Wall. Este está em várias listas e o engraçado é que o solo da mesma música no Pulse é o quinto da lista. Eric Clapton vem mais abaixo.

Abraços
Osmar

Anônimo disse...

taba...
se o pink nao fizesse tanto a minha cabeça eu ate escutaria mais clapton. gilmour pra mim eh o cara... mesmo nao tocando baixo! uhauhauah! tem alguns cds solo dele e... nao sei explicar minha afinidade com a imagem dele e nem com o som.
acho q isso acontece pq somos preguiçosos! :D

Tabá disse...

Esperança: parece que é isto mesmo. Damos muito valor ao imediato, ao racional, ao tecnológico e esquecemos a intuição, o ancestral, o sentimental.

Osmar: Se o melhor solo é este que citaste, então o mundo ainda toma jeito...

Ilse: Não que eu despreze o Clapton, acho o cara muito competente, mas o Gilmour me toca pelo feeling. Quero ser amigo dos dois, em todo o caso. Mas se tiver que decidir, fico com o David.