quarta-feira, novembro 14, 2007

Amor e Poder

Um grande amigo diz-me que está cada vez gostando mais de trabalhar. Em princípio uma frase positiva, para o senso comum dos que vivem ainda no mundo do trabalho. Nada mais desejável do que o apreço pelo trabalho dos que precisam trabalhar. Não gostar (nem aprender a gostar) do que se precisa fazer é o pior dos infernos, por ser cotidiano. Imagino quão infeliz é o ser humano que precisa levantar cedo, depois de uma noitada de excelentes conversas com amigos do peito, deslocar-se até o trabalho, para passar o dia executando uma tarefa que não lhe agrada, desejando estar em outro lugar, não vendo a hora de acabar a tortura. Imagino isso acontecendo todos os dias. Imagino que reações insanas devem ocorrer na mente do infeliz, como a de descontar sobre seus pares sua frustração e impaciência. Definitivamente, é preciso gostar do que se faz para alcançar certo grau de felicidade.

Seria bastante positiva a afirmação do meu amigo, não fosse o fato de eu saber que ele está investindo sua energia no trabalho como conseqüência do fato de estar , sem família, sem amor individual. A idéia me fica clara quando ele, talvez por ato falho, conta-me de um colega seu que, tendo se aposentado, pede encarecidamente para voltar a trabalhar. Essa pessoa, ele percebe, aposentou-se sem estar preparada, que é caso bastante comum, mas também não possui uma estrutura familiar que o respalde afetivamente.

Tudo isto me fez pensar sobre o amor e o poder.

O amor, no meu entender, é uma necessidade individual e egoísta. Nascemos precisando ser amados, senão não sobrevivemos, dado que nascemos incompletos em termos fisiológicos, sem capacidade de movimento, dependendo, portanto, do quanto nossos familiares nos amam e desejam nos manter vivos. Queremos receber amor e logo aprendemos que precisamos dar amor se queremos receber, uma vez que todos os outros com quem nos relacionamos têm o mesmo desejo.

O poder, por outro lado, vem da nossa ordem genética de manter viva a espécie humana, o que resulta na ordem de fazer diferença na vida coletiva. É preciso ser bastante ignorante para não perceber que exercer poder positivo, de melhorar a vida coletiva, é o único meio de recebermos reconhecimento e consideração e, aumentar deste modo a nossa probabilidade de sobrevivência.

De modo que o trabalho bem feito traz felicidade sim, sob forma de reconhecimento, apreço e mesmo afetividade e amizade. Mas não nos reproduzimos com o coletivo. Precisamos de um amor individual, nosso, egoísta, que não repartiremos com mais ninguém.

Quem pensa que pode substituir o amor individual pelo amor coletivo (mesmo o familiar), está cometendo, a meu ver, um engano caro, de alto preço mais cedo ou mais tarde.

Estas duas necessidades básicas humanas, o amor e o poder, estão sim interligadas. Há uma sensação de poder quando se percebe que a nossa existência faz diferença na vida do nosso amor individual. Há uma sensação de satisfação de ser amado, vivida pelo líder que faz diferença positiva na vida de seus liderados. No entanto, é impossível eliminar uma delas em função da outra.

Digo para o meu grande amigo: sinto muito, mas como teu grande amigo não posso deixar passar, preciso te dizer que a tua dedicação ao trabalho passa a ser suspeita, porque percebo aquilo que precisas agora. Além de trabalhar bem e satisfeito, também necessitas voltar para uma casa onde um amor te espere.

6 comentários:

Candy Devilla disse...

Perfeito...

Nem saberia o q dizer...

Eu, sendo carente por natureza, sou muito dependente, tanto de amor coletivo qto de amor individual... Todos necessitamos de um amor soh seu, bem egoísta, algo q vc nao divida com mais ninguem mesmo!!!

Recebo amor da mnha familia, mas isso nao eh suficiente. Tenho o amor do meu maravilhoso namorado- Marcio -, dos meus amigos e de meus bichinhos de estimação - Gucha, a cachorrinha e o Stalin, o gato preto mais carente q eu -... Mesmo com tanto amor q recebo, as vezes sinto-me carente, mas tao carente... ai eu apelo para meu amor individual, vou atras do afago do Marcio...

Gosto de meu trabalho, mas conto cada minuto para sair e encontrar minha mãe, encontrar o Marcio, mes amigos, a Gucha e o Stalin.

Sinceramente, nao sei o q seria de mim se não tivesse todos esses meus amores...

Taba, lindo texto ^^

Tabá disse...

Candy: não te preocupes com tua carência. Somos todos carentes, sempre queremos mais amor, só não confessamos, como tu fazes com franqueza e sinceridade. Isto não é um defeito, mas sim te torna mais amável. Sorte do Marcio...Beijão!

Xanxa Symanah disse...

Estou com saudades!

Paz e Amizade

Xanxa

Unknown disse...

Eaí, Taba!
Tô aqui pra elogiar o teu blog, dizer que tu escreveste uma coisa que eu já venho pensando há tempos, e uma coisa sobre a qual nós conversamos naquele dia em Pelotas.
^^
Quando li, admito que fiquei abismada em ver o quanto me identifiquei com o teu texto.
Quando não se tem felicidade no que se faz (trabalho), não se tem mais a vontade de viver. Tu não vives se tu não és feliz, apenas sobrevives a cada dia que passa. Logo, se não tens felicidade no que fazes, também não terás amor próprio. Por não conseguir distinguir o que é realmente importante.
Amor coletivo e amor individual... Realmente esses dois estão bem interligados. Acho que a gente tem que saber equilibrar os dois, de maneira a manter o nosso amor próprio, sem nos tornarmos egoístas. Isso é algo extremamente difícil, mas uma grande meta para aqueles que desejam a felicidade.
Bom...
Minha opinião.
^^
Vou começar a dar uma olhada mais freqüente no teu blog.
Estás de parabéns!
Beijos!

Anônimo disse...

Bueno, quanto ao amor ao trabalho, penso ser fundamental. Para os marxistas, o trabalho é que torna o homem humano e social. Quanto ao amor individual, minha formação e minha vivência "terapêutica" me ensinaram que não devemos esquecer que as pessoas são diferentes, e que assim são diferentes suas necessidades. Em algumas teorias, vemos uma tendência de padronização, que facilita o raciocínio, uma vez que compreender um por um dá mais trabalho, mas eu ainda acredito na subjetividade e na riqueza da individualidade de cada um. Do contrário, corremos o risco de estabelecer padrões de normalidade e de "doença", e a humanidade tem exemplos históricos assustadores neste sentido.
Um abraço, Tabá.

esperanca disse...

A gente leva da vida "amor"
A vida que a gente leva.

Equilíbrio, acredito que o segredo está no equilíbrio, por exemplo, amor e poder.
Parabéns e
abraço Tabá!