Repórter – Como é estrear no teatro com a sua idade?
Lestat – Pois, para mim, a idade não é uma barreira ou uma condição básica para se fazer teatro. Na minha opinião, a maturidade nos dá certas experiências e vivências que podem ser bem utilizadas. Assim que, estrear no teatro nesta idade, está sendo um imenso prazer, tanto quanto qualquer outra experiência interessante em outras épocas da vida. É claro que determinados papéis passam a ser inapropriados devido às condições físicas, mas outros são até mais adequados.
Repórter – Como o senhor descobriu que tinha vocação para o teatro, uma vez que consta que o senhor tinha uma profissão completamente diferente?
Lestat – É verdade que atuei como professor universitário na área de ciências exatas durante muitos anos e, aparentemente, não há relação entre esta área de atuação e o teatro. No entanto, pergunte a qualquer professor dedicado se ele não se sente atuando. É preciso ser um pouco artista para fazer o estudante se interessar por matérias áridas como a matemática ou a estatística, abrindo mão de liberdade, para ficar confinado em sala de aula e ouvindo, às vezes durante seis horas, assuntos que não compreende bem que sejam do seu interesse. Preparar aulas é quase como preparar o texto a ser apresentado. A grande diferença é que as aulas são, em geral, preparadas individualmente e a apresentação é de responsabilidade de uma única pessoa, sendo o professor o seu próprio diretor. No teatro, como geralmente o trabalho é de equipe, é necessário aceitar as determinações de uma outra pessoa, o diretor, que coordena esta equipe. Preparar um texto teatral é como preparar uma aula em colegiado. É necessário dividir responsabilidades, aceitar determinações que nem sempre seriam as nossas, ter paciência com as diferenças de opinião e diferenças de aprendizado. Nem todo mundo do grupo percebe na mesma velocidade como compor o seu personagem ou decora com eficiência o seu texto. Como o resultado final, a encenação, é necessariamente de equipe, não há como brilhar individualmente e dizer que a peça foi um sucesso. Caso um ator, mesmo aquele do menor papel, desempenhar ridiculamente, este será o ponto fraco de comentários do público.
Repórter – Então o público é maldoso e exigente, em sua opinião?
Lestat – Não se trata de maldade ou exigência extremada. Acontece que, sobretudo no teatro amador, o público vai inseguro, pois se projeta nos atores, torce por eles, quer que eles acertem e tenham sucesso. Quando um ator falha não deixa o público feliz pelo erro, muito pelo contrário, ele se sente mal porque sente que ele mesmo está errando. A não ser que seja uma pessoa anormal, sádica ou desvairada.
Repórter – Em sua opinião, é difícil dirigir uma peça teatral?
Lestat – Sim. Dirigir uma peça teatral enquadra-se em atividades muito semelhantes às da área de engenharia, acrescida da necessidade de sensibilidade artística. Dirigir afinal, é acima de tudo gerenciar recursos humanos, em tudo o que esta tarefa tem de complexa, em solucionar conflitos entre pessoas e idéias. Há ainda uma incrível semelhança na área de planejamento, de estoques, de previsões financeiras, de estudo de leiautes, de tempos e movimentos, entre outras. Poderia até mesmo se falar numa engenharia de teatro, apesar do termo possivelmente causar arrepios nos artistas.
Repórter – É compensador, enfim, fazer teatro?
Lestat – Fazer teatro foi uma das decisões mais felizes que eu tomei nos últimos tempos. Quando se chega a certa idade, passa-se a ter a sensação de já se ter aprendido bastante e que resta pouco a aprender. Mas, se a pessoa encoraja-se a tentar novas experiências, novos desafios, descobre encantada que há um mundo novo a ser desbravado. O prazer sempre veio da aprendizagem. Aprendizagem é prazer, é diversão. O teatro trouxe-me aprendizados incríveis, portanto prazeres incríveis. Um deles é a superação dos próprios limites. Conta-se ainda a eterna felicidade de fazer novos amigos, de conhecer pessoas encantadoras e talentosas, que estariam escondidas para nós, não fosse aquela experiência. São amizades que brotam de objetivo comum, de ajuda mútua, de parceria, e são aprofundadas em tempo muito curto.
P.S. As peças “As Filhas”e “Sandrinha”, baseadas em textos de Nelson Rodrigues, estréiam nos dias 07 e 08 de julho no Teatro Municipal do Rio Grande (Rio Grande, RS). Quem quiser apreciar o esforço do Lestat (o vampiro de prazeres) prestigie comparecendo. Entrada franca.
sexta-feira, junho 15, 2007
Entrevista Com o Ator
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9 comentários:
Parabéns ao entrevistador e ao ator entrevistado. Estarei lá dias 7 e 8. Estou ansiosa por conhecê-los, embora já os ame há 39 anos e nove meses.
Cleuza
Adorei a entrevista... hahaha e a alcunha, sou fã do Lestat ;)
Minha presença é garantida nesse espetáculo!!! Texto, diretor e atores são de alta qualidade, não dá pra perder!
Super beijo
Espero que a peça tenha outras apresentações, pois nestas datas penso não ser possível assistir, mas anseio por este espetáculo.
Entre as muitas idéias desta entrevista, encantou-me a beleza e o significado da abertura às novas experiências, aos desafios... o "eterno" mundo novo a ser desabravado. Que oportunidade descortinaste na tua vida, Taba.
Adoraria compartilhar com vocês este belo momento, mas, como diz Cintia, quem sabe numa outra data?!
Daqui estarei em sintonia contigo.
E, quero autógrafo!!!
Niedja e eu estaremos lá, pois sabemos que, pelo menos um bom ator estará. Só esperamos que os ingressos não estejam todos nas mãos dos cambistas, rárárá.
Nem me dei conta... ainda mais que o blog está mais devagar devagar...
Que bom que curtiste.
Beijao
Oi Tabá!
Incrível como as duas vidas se aproximam...entrevistador e entrevistado.
Será que não sai uma seção extra para as férias colegiais de julho???
Abraço!
Muito legal! Gostei desta entrevista! Acho muitos verdades aqui. Ha uma semelhanca com um professor de estatistica que conheco bem!
Da tua irma inglesa
Xanxa
Amigo TABA, prezado NARRADOR, querídissimo IRINEU.
Eu também sou um velho vampiro, monstro das coxias que me alimento do sangue novo de minhas belas e jovens atrizes. Elas fazem com que eu me sinta mais jovem. Tenho um prazer imenso de "brincar" (no bom sentido)com esta coisa lúdica que é o teatro, que nos faz "fazer de conta" e acreditar que é tudo verdade, pelo menos na "hora e dez" que mais ou menos dura a apresentação da peça.
Enfim...vampirizemo-nos sensíveis e esteticamente e curvemo-nos aos aplausos, que é certo, mereceremos.
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