sexta-feira, dezembro 29, 2006

Algumas virtudes


(Reedito este texto, desejando a todos que 2007 seja um ano de Educação e Cultura)

Temos cinco sentidos com os quais aprendemos sobre o mundo real. Quando queremos saber coisas sobre esse mundo, vemos, escutamos, tateamos, cheiramos ou degustamos.
Como toda a máquina, esta, chamada corpo, também é limitada. Então, o que percebemos quando vemos, ouvimos, pegamos, cheiramos ou provamos é sujeito a falhas.
Os cachorros ouvem sons que não ouvimos, porque o nosso aparelho auditivo é mais limitado, em certa faixa, em relação ao deles. Mas isso não significa que os sons não existam. Eles estão aí, nós é que não temos capacidade de ouvi-los.
Não conseguimos ver determinadas faixas de luz, como os raios ultra-violetas, mas eles estão aí, diz a Ciência, e queimam as nossas peles.
Existem determinadas faixas de odores que são percebidas instintivamente por nós, diz a Biologia, mas das quais não sentimos propriamente o que chamamos de cheiro. Às vezes antipatizamos com alguém sem saber o porquê. Se investigássemos, poderia ser um cheiro que não foi percebido conscientemente.
Então, o que uma pessoa vê ou ouve ou sente, pode ser diferente do que a outra vê ou ouve ou sente. Depende dos sentidos mais ou menos apurados de cada uma delas.
Se somarmos a isso as nossas influências culturais, perceberemos que somos diferentes também por isso.
Se considerarmos que cada um de nós tem uma história de vida diferente, com um pai, uma mãe e um irmão ou irmã que ninguém mais teve, só nós, poderemos perceber que somos únicos. Ninguém é igual a nós, porque ninguém mais teve a nossa trajetória.
Saberemos também que as escolhas que fazemos são baseadas em nossos “mapas” pessoais, que construímos com base em tudo o que aprendemos com os nossos sentidos, que são falhos. Por isso erramos.
Por outro lado, teremos também consciência de que, o que chamamos de “realidade”, é só a nossa visão pessoal do mundo real, baseada em nosso “mapa” do mundo.
O mapa não é o território.
Por isso só nos resta adquirirmos algumas virtudes:
a) sermos humildes: quando reconhecemos que não somos donos da “verdade absoluta”, já que o nosso “mapa”, construído pelos cinco sentidos, é falho. Humildade, no entanto, não implica submissão. Submissão é aceitar os “mapas” dos outros como verdadeiro, ou aceitar a imposição deles. O que é um absurdo, já que são “mapas” humanos, falhos como os nossos.
b) sermos compreensivos: quando reconhecemos que as outras pessoas tem “mapas” tão válidos quanto os nossos e que fazem sentido dentro do contexto delas. Se aceitarmos isso, pararemos de achar “errado” comer formigas, por exemplo, como fazem alguns australianos ou peixe cru, como fazem os japoneses (quem não comeu deveria experimentar, aliás, é uma delícia, na minha opinião, no meu mapa - se preparado devidamente). Também teremos que compreender porque uma pessoa matou a outra. Mas compreensão não implica aceitação ou tolerância, mas entendimento, para que possamos lidar com a informação.
c) sermos cooperativos: quando reconhecemos que temos conhecimentos limitados, que somos humildes e compreensivos, então, percebemos que a cooperação é a estratégia mais eficiente e lógica, pois se juntarmos “mapas” entre nós, teremos uma visão mais completa da realidade.
Eis uma boa razão para trabalharmos em equipe, de pararmos de fazer escolhas pelos outros, de pararmos de pensar que sabemos o que o outro pensou ou quis dizer...

Leitura inspiradora:
Chung, Tom. Qualidade começa em mim : manual neurolingüístico de liderança e comunicação. 3. ed. São Paulo : Maltese, 1995.

7 comentários:

Anônimo disse...

Taba, lei tu trabajo que me parecio excelente por su sencillez y
profundo sentido. Nadie tiene recetas, pero es buena epoca esta del fin
de ano para pensar la convivencia, como somos y como nos relacionamos.
El dialogo franco, el entendimiento entre las personas que preserve su
diferencia, no la simple tolerancia que puede tener algo de altanero y
distante, son practicas invalorables. Vale no solo recordarlo, sino
aprender a vivir en esa praxis tan enriquecedora y grata. Desde un
Montreal todo nevado con sol, blanco irradiante que augura mejores
tiempos para la comunicacion, un abrazo para ti y Cleuza.

Anônimo disse...

Plenamente de acordo, Tabá, principalmente quanto à afirmação que fazes de que minha visão de mundo é exatamente o que as palavras afirmam: MINHA visão do mundo, o que pressupõe, logicamente, outas visões, todas tão válidas como a minha mas, muito provavelmente, distintas. Daí a conclusão, igualmente lógica, que fazes no texto, de que só nos resta ter humildade, compreensão e cooperar com nossos semelhantes porque muitos "mapas" juntos certamente nos orientarão melhor que apenas um.

Infelizmente estamos numa época que valoriza por demais justamente o contrário. É também por isso que acho importante continuares no ano que vem com esta empreitada que iniciaste neste ano de 2006. São poucos os que remam contra a corrente, não podemos perder mais um remador (e dos bons...).

Pode ser uma sugestão meio egoísta de minha parte, eu que gosto de ler o que escreves, e isso estaria em contradição com a minha concordância expressa contigo anteriormente. No entanto, aplaco um pouco esses sentimentos de culpa ao pensar que, incentivando-te a escrever mais, estou apenas representando não só a mim mas também a muitos outros leitores teus que igualmente gostam
de ler os teus textos (... hummmm ... não estaria eu, na tentativa de escapar de uma contradição, caindo em outra, a da presunção de saber o que os outros querem e de falar por eles? - deixo esta para os teus leitores...).

Então, Tabá, fica aqui o meu desejo de que tenhas um 2007 muito feliz ao lado dos teus, com muita paz, amor e, claro, saúde, até para que possas continuar a escrever teus belos textos (... olha aí um egoismozinho aparecendo de novo ... é difícil escapar, afinal somos filhos dessa era ... mas dizem que reconhecer um erro é o primeiro passo no caminho da sua superação ... Tomara!).

Um grande abraço do amigo

Eduardo (Duda) Carvalho Pereira


P.S.: se não for pedir demais, abraça por mim a "patroa" Cleuza a quem igualmente respeito e quero bem, e extenda-lhe os votos que te fiz. Obrigado.

Celso R. disse...

Esta questão de percepção é raiz de muita discussão, sobre a natureza e origem da consciência. Quem me garante que o que eu vejo como verde você não vê como vermelho? Talvez verde seja apenas a cor entre vermelho e azul no espectro, amas as sensações sejam muito diversas entre as pessoas. Aliás, realmente, algumas pessoas confundem cores. Ou não? Talvez confundam em função do recorte dito "normal", só isso. Afinal, também, quem me garante que eu não seja o único ser existente no Universo e tudo o mais é fruto da minha imaginação, até a história de que o perfume Chanel No 5 resulta do esmagamento de de 1 m3 de madeira?

Ou que Tabajara Lucas de Alemida é uma invenção minha? Aliás, como já te disse, sempre me pareceste muito familiar...

Celso R.

esperanca disse...

Tabá!

enquanto me deliciava com a releitura, tinha os melhores pensamentos possíveis pra tí e para a Cleuza. Que tudo corra bem neste 2007 e se possível sem pressa.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Todo ponto de vista é a vista de um determinado ponto. Alguém usou esta frase justamente para falar que o ponto do qual cada um vê está implicado por estes mapas, estas referências. Disse também um político que conheço que, sempre que encontra alguém que pensa diferente, parte do princípio que o outro tem razões para pensar do jeito que pensa. Concordo com o que escreveste: este princípio é a base para a convivência civilizada, respeitosa, solidária entre as criaturas humanas, para o convívio com as diferenças.
É isso aí!
Cintia Pestano

Unknown disse...

Boa noite!

Aceitei seu convite
Cá estou. Deslumbrada
Com seu reflexivo pensar.

Encantei-me com o texto
E seu espaço pensante...
Parabenizo-o!

Bj poesia

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny