
Como explicar o coração na boca quando ela pede para sair sozinha à noite? Como explicar a insegurança?
Como explicar bicicletas em cima da calçada a toda velocidade?
Como explicar carroças na contramão, com meninos açoitando cruelmente cavalos?
Como explicar automóveis sem faróis nas estradas?
Como explicar que aqui as motos ora são bicicletas, ora são carros?
Como explicar esgotos escorrendo nas calçadas?
Como explicar bueiros entupidos de sacolas plásticas e suas conseqüentes enchentes?
Como explicar tampas de esgotos faltando, com risco enorme para os pedestres, por terem sido roubadas?
Como explicar as calçadas esburacadas e impostos pagos? Como explicar que as pessoas que caem nos buracos das calçadas acham graça e se sentem culpadas por ter caído?
Como explicar que aqui no Sul do Brasil as pessoas pensam que vivem em um país tropical e não possuem nenhuma proteção decente contra o frio europeu em suas casas, mesmo tendo condições financeiras para isso? Como explicar que não existe nem tecnologia contra o frio, quando ela pergunta por que as janelas não são duplas?
Como explicar estradas de terceiro mundo e pedágios de primeiro?
Como explicar os vendedores das lojas que ficam olhando para o cliente, continuando num divertido papo entre si? Como explicar balconistas que não se dirigem aos clientes, mesmo quando a farmácia está vazia?
Como explicar que brasileiro marca horário para encontro e aparece uma hora depois? Ou não aparece.
Como explicar que brasileiro convida para ir à sua casa, mas é só da boca pra fora? Às vezes nem dá o endereço.
Como explicar que professores universitários não cumpram horários, programas ou fumem nas salas de aula, apesar de proibição específica?
Como explicar pessoas pedindo esmolas em todos os lugares?
Como explicar as crianças pedindo nos sinais e cheirando cola?
Como explicar a fome e a miséria, ao lado de centros comerciais e carros de primeiro mundo?
Como explicar pessoas passando frio no inverno, na rua, embaixo dos viadutos?
Como explicar as casas de papelão e lata, nas beiras das estradas?
Como explicar a reeleição de políticos suspeitos de fraude ao erário público? Como explicar o nosso culto aos trapaceiros, aos canalhas, aos arrogantes, aos coronéis?
Como explicar que a afetividade brasileira é acompanhada de desconfiança? Como explicar que não se pode confiar num brasileiro simpático e comunicativo?
Como explicar o jeitinho brasileiro?
Como explicar a nossa falta de Educação?
Com a palavra o leitor.
Mesmo que seja para mais perguntas...
17 comentários:
Dissete tudo Taba.
Educação diminuiria um tanto estes ... como, não é?
E como explicar que passada a eleição tudo que se referia a canalhice dos políticos foi esquecido, até momento mais oportuno?
Faltou: Como explicar que os construtores em Rio Grande possam tomar conta das calçadas, não fazerem o alargamento em madeira, depois do meio fio, colocarem um container para o entulho e jogarem o pedestre literalmente para o meio da rua e dos automóveis?
Como explicar que, agora, virou moda também se adonarem das calçadas limitando seus domínios com fitas amarelas e pretas, jogando também o pedestre para o meio da rua? e os deficientes como ficam?
Tabajara,
concordo com tudo o que dizes e com os comentários já postados, mas há pouco tempo eu tive que ciceronear um professor alemão e, quando parei em um semáforo e veio um menino pedir esmola, eu perguntei se ele já tinha visto isso e ele respondeu: sim, nós temos na Alemanha, só que eles ficam na calçada, não colocam as mãos no carro. Curioso, não?
Abraços,
Helena
Mas... Taba...
O Brasil é o país do futuro. Temos que acreditar, sempre, hehe.
Abraço
Ah. Agora no cassino houve mudança nos sentidos das ruas paralelas à av. Rio Grande. Ao avisar um motorista que o mesmo se encontrava na contra-mão, fui recebido com um respeitoso "gesto" com a mão. Isso é Brasil!
Como explicar que a educação deixa de ser percebida como início de m udanças?
Malaquias
Enquanto continuarmos produzindo e "varrendo" nosso lixo social para baixo do tapete não teremos explicações nem para estrangeiros, nem para aplacar a nossa desesperança. Não sei se pela crise da institucionalidade (na verdade, crise do "humano"), mas meu porto seguro atualmente é fazer a diferença no micro, apostando no olhar, no acolhimento, no toque, na denúncia, enfim, na imensa possibilidade do que está "próximo" (mesmo que há quilômetros/luz fisicamente)...
Pois, como dizia Paulo Freire, "O mundo não é. O mundo está sendo".
Gde abraço, Tabá.
Talvez no auge de minha indignação eu diria a ela:
"A culpa é de seu país neo-colonialista"
Ou então:
"O que vc entende por desenvolvimento?
Se o mundo fosse feito apenas de Suiços, seriam necessários 13 planetas terra iguaizinhos a este para sustentar sua cultura do consumismo"
Pouco educado não é verdade?
Desculpem...
Mais alguns "como?":
Como escaparmos de visões maniqueístas, de bem e de mal?
Como explicarmos tudo isto sem cair num medíocre pensamento indutivo, do tipo: um é assim, dois são assim, logo todos são assim.
Um brasileiro pode ser assim, dois brasileiros podem ser assim, mas seguramente TODOS OS BRASILEIROS NÃO SÃO ASSIM.
Ainda acredito no verdadeiro respeito à diferença, no sentimento/pensamento que não generaliza, mas que encontra na particularidade respostas para o que há de bom.
Temo as generalizações, pois elas são perigosas e por si absolutas.
Absolutismo me assusta.
A Educação é uma das saídas, mas a formação moral e ética deve se dá em todas as políticas sociais e em todas as dimensões do que se entende por vida.
De resto, penso que há problema (individual e coletivo) é quando passamos a ter mais respostas do que perguntas. Então, continuemos a exercitar nossas perguntas!
Cintia
Oi Tabajara,
Eu não sei o que é pior, as coisas que como você disse são impossíveis de explicar (como não poder atravessar a rua na faixa de segurança sem olhar para os lados), ou que tem certas coisas que os estrangeiros vem para o Brasil esperando encontrar (como fome, miséria, ser assaltado, conseguir qualquer mulher, já que as brasileiras tem fama de fácil). Acho deprimente ouvir às vezes o que eles pensam de nós. E o pior é que somos nós mesmos que vendemos essa imagem (os documentários que passam lá fora sobre o Brasil são só sobre as coisas negativas, sem falar nas imagens que mostramos, como por exemplo, da torcida brasileira na copa; nem nossa música, que já foi motivo de orgulho, está sendo bem representada lá fora – me disseram que “Rita quebra barraco”, ou um nome assim, foi escolhida para representar o Brasil num festival). Não acho que tenhamos que vender uma propaganda enganosa, mas a imagem que chega do Brasil lá fora é de um estereótipo que não é 100% verdadeiro.
Gostaria que mostrássemos a cara verdadeira do Brasil, Todas as caras.
Abraços,
Giovana
Todos os países tem suas peculiaridades e o Brasil não é exceção... Mas acho que seria simples responder algumas dessas perguntas.
Como explicar o coração na boca quando ela pede para sair sozinha à noite? Como explicar a insegurança?
- No caso de Rio Grande e diversas outras cidades é relativamente seguro... A não ser que ela queria sair com um cartaz de "me roube": jóias, roupas extravagantes, etc...
Como explicar que aqui no Sul do Brasil as pessoas pensam que vivem em um país tropical e não possuem nenhuma proteção decente contra o frio europeu em suas casas, mesmo tendo condições financeiras para isso?
- Putz... Bem lembrado... Essa é realmente uma questão bizarra e incômoda.
Como explicar pessoas pedindo esmolas em todos os lugares?
- Assim você faz parecer que a sua amiga da Suíça nunca viajou para nenhum outro país do terceiro mundo... (:
Como explicar a reeleição de políticos suspeitos de fraude ao erário público? Como explicar o nosso culto aos trapaceiros, aos canalhas, aos arrogantes, aos coronéis?
- Citar: Estados Unidos. (:
Já quando você fala de afetividade, ou de convidar alguém para casa e depois não querer receber, isso é muito comum no sul e sudeste, mas pelo o que conheci deve ser bem incomum no norte/nordeste.
Problemas no trânsito tem em diversos países, como na Tailândia e na Índia, onde o trânsito é bastante caótico.
Acho que os problemas de cada país devem ser comentados, criticados, mas as pessoas que estão viajando devem estar dispostas e preparadas para encontrar qualquer coisa.
Por fim... Podia ser pior. Já pensou se ela tivesse ido parar no Rio de Janeiro? Ela poderia ser atacada por algum animal selvagem no meio da rua, teria que andar em meio a pessoas nuas e correria o risco de ter os seus órgãos vitais roubados; como mostrou o filme Turistas. :D
É, mas falta também explicar como as entender as pessoas que querem sempre falar de si sem dar a mínima para os outros. Como explicar os que interrompem outras pessoas quando estão falando? Como explicar então aquele que fura a fila? Como explicar que a grande maioria das pessoas conscientes queiram mudanças coletivas radicais se individualmente nada se faz?
alô Taba...
não sei explicar, mas sei como estou me sentindo.
um zero à esquerda, para não dizer coisa pior.
Aderbal
Prezado Tabajara:
Com todo o respeito pela tua amiga suiça, na verdade, pelo jeito, as inquietações são mais tuas, mesmo. No entanto, um compatriota DELA já pensou bastante sobre o tema, ainda que mais do ponto de vista econômico e político, nem tanto comportamental ou psicológico: Jean Ziegler, autor de obras como "A Suíça lava mais branco" e "A Fome no mundo explicada ao meu filho". Algumas de suas declarações, quando esteve no Brasil, em 2002: que os primeiro-mundistas são muito hipócritas e falsamente liberais frente aos problemas do mundo, "pois todos sabem que o nosso bem estar e acúmulo de riquezas vêm do roubo e da desgraça em muitas outras partes do mundo". Mas não ficou por aí: "O Brasil é um país que enfrenta uma guerra de classes com seus 40 mil assassinatos anuais" (quando para a ONU o total de 15 mil/ano de assassinatos (sic) já seria indicador de guerra social). Na época, um porta-voz do governo brasileiro reagiu dizendo que "Jean Ziegler é maluco, desonesto e não tem seriedade necessária para representar a ONU".
Risos.
Sds,
Celso R.
Para visões expeditas:
"A fome, segundo Ziegler", de Emir Sader http://alainet.org/active/
show_text.php3?key=1856)
"Lavanderia Brasil", de Walter Maierovitch
http://www.clippirata.com.br/
Em_Tempo/Em_Tempo4/em_tempo4.html
Ana Ruiz é autora de um documentário sobre ele: "Jean Ziegler, a Felicidade de ser Suíço".
http://www2.uol.com.br/mostra/jornal/jornal55.htm
E também falta explicar como podem os professores, formadores de consciência criarem cada vez mais entraves burocráticos. Como explicar que educação é cobrada de todos, se nem todos dedicam aos outros o devido respeito. Como explicar a borboleta que sai do casulo? Como explicar o sol que nasce em um lado e se põe do outro? Como exlicar os ratos que, ao fugir do naufrágio, sabem exatamente o caminho a percorrer? Como explicar que em um país de tão grande diversidade racial e cultural ainda exista qualquer tipo de preconceito? Como explicar que apesar de tudo, algumas pessoas ainda matêm remotas esperanças de que um dia possa ser melhor que outro?
Amigo Tabajara,
Lamentavelmente, tudo que foi relatado acontece. Gostaria de viver num país tipo 'suiça' 'bélgica'. Como não dá, me conformo em estar aqui, ao invés de na Nicaragua, Peru, Bolivia, México, Oriente Médio, etc. etc. Não podemos esquecer que há menos de 100 anos, muitos dos atuais países do 'primeiro mundo' enfrentavam terríveis situações (guerra, fome, desemprego, violência). Não estamos condenados a continuar vivendo com tantas situações tristes. Acredito que gerações futuras viverão num Brasil muito melhor que o de hoje.
Abraço
Theodoro
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