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Outro dia um bom amigo me prendeu numa gaiola, sem querer. Ele me disse que não queria mais me reter naquela nossa conversa, pois era hora do almoço e ele sabia que eu ficava de mau humor quando passava da minha hora de almoçar. E riu, talvez por lembrar de algum episódio entre nós ou talvez por lembrar das justas gozações que fazia comigo tempos atrás. No entanto, eu vinha, há bastante tempo, esforçando-me para mudar este meu comportamento e estava conseguindo. Já poderia passar tranqüilamente sem almoçar, se fosse necessário. Estava aprendendo a controlar a alimentação e até emagrecendo. Ele mesmo havia notado isso, mas prendia-me em uma gaiola.
Existem gaiolas inocentes como essa.
Mas existem outras terríveis e responsáveis por muitas das baixas em nossa Qualidade de Vida.
O que estas gaiolas nos causam é que acabamos nos comportando do jeito que as pessoasesperam de nós. Imaginemos que eu pudesse ter pensado que todo o meu esforço para mudar não estava sendo reconhecido e que, então, seria melhor permanecer como eu era, já que não fazia diferença para o meu bom amigo. Então eu passaria a me comportar exatamente da maneira que era a esperada por ele: ficaria ansioso e voltaria ao mau humor na hora do almoço.
Às vezes nós prendemos as pessoas nessas gaiolas porque nos é conveniente, como uma forma de manter um suposto "controle" sobre o outro. Se a pessoa tem um ponto frágil e nós descobrimos, isso nos dá uma “vantagem” sobre ela. Se a pessoa tenta mudar, pode não nos ser vantajoso perder esse trunfo. Assim é melhor não reconhecer, para manter o “poder”. Suposto poder, porque o verdadeiro poder só acontece quando modificamos a vida dos outros para melhor.
As gaiolas estão inversamente ligadas à nossa capacidade de perdoar os erros dos outros e de incentivá-los a não errar mais.
Existem pessoas que tem uma memória fantástica para erros. Se numa certa ocasião erramos com elas, e mais tarde reconhecemos que elas tinham razão, pronto! Elas remoem o acontecido, tripudiam sobre o fato e parecem não ter capacidade de esquecer ou perdoar. Muito mais tarde ainda, referem-se a nós como aquele que errou daquela vez. Elas nos prendem em gaiolas insuportáveis.
No entanto, biólogos sabem que existe uma estratégia muito eficiente de comportamento, utilizada pela evolução e pela natureza, e que tem base na famosa Teoria dos Jogos. Tal estratégia reza que nossa primeira atitude com os outros deve ser a de colaboração. Se o outro resolver trair a nossa confiança, então ele deve pagar de alguma forma, desde que tenhamos certeza de que não foi uma traição involuntária (esta pode ser perdoada e prevenida) e que a pena não seja maior do que a gravidade do ato.
Mas, e aí vem o ponto principal, a estratégia prega que, a partir do pagamento devido, devemos ter a capacidade de esquecer o ocorrido e estarmos dispostos a colaborar novamente. Não é a estratégia dos “trouxas” é a estratégia dos sobreviventes! Empreguei esta estratégia no meu trabalho diversas vezes e posso afirmar que só tive bons retornos. Se bem que as pessoas custam um pouco a acreditar que foram perdoadas e que realmente esquecemos o ocorrido, tal é o mau costume do rancor entre nós.
Cientistas simularam esta estratégia de comportamento em computadores, comparando-a a centenas de outras, sugeridas por brilhantes estrategistas, e ela demonstrou ser a mais eficiente em resultados positivos.
A estratégia da cooperação e do perdão a mais eficiente?
Que ironia!
Às vezes parece que estamos tomando o caminho inverso... e construindo cada vez mais gaiolas...
6 comentários:
Tabajara:Este escrito é uma ajuda para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.temos o direito e o dever de lutar até o fim para abrir a porta e voar...É muito dificil esse vôo pois é grande a resisitencia das pessoas para que nãonos livremos dos rótulos,para que façamos as coisas como elas esperam.E com as gaiolas as pessoas impedem que as outras mostre que são diferentes,mostrem a sua riqueza pessoal.Muitas vezes numa abordagem de rua ou de corredor um conhecido faz uma pergunta e antes mesmo de ouvir a resposta dá uma risada.Outras vezes a pessoa fala algo baixinho para um amigo e o gaioleiro de longe grita:-Como é que foi? O que foi que ele disse?Feliz de quem escapa das gaiolas!É complicado pois significa ir de encontro às expectativas destrutivas de quem arma a gaiola.Podemos ver que se não reagirmos firme ou não sairmos o interlocutor não desiste...Mesmo que a pessoa assuma uma atitude adequada os malvados ficamolhando para os outros e rindo de modo destrutivo.Abraço.O.J.de P.B.
Tabajara,
O paradoxo disto é justamente o fato de que os que engaiolam, são justamente os que não conseguem voar.
Tabajara,
lembro deste texto, da outra vez que o li, só não lembro o que senti e/ou pensei. Mas como em cada época lemos de forma diferente, hoje pensei que talvez mais terríveis sejam as gaiolas que nós mesmos criamos para nos engaiolarmos. A comida é um bom exemplo, pois acredito que muitas vezes uma pessoa não faz regime porque as conseqüências poderiam ser desastrosas para o costume de se queixar da vida...
Oi Tabajara!!
A Helena falou bem o que queria dizer, as piores gaiolas sao aquelas que no's mesmos construimos para n'os. Destas dificilmente nos livramos e elas que nos impedem de lancar os melhores voos.
beijos
Cris
Taba querido,
Sinceramente, acho que ninguém pode nos engaiolar. Somos livres de dirigir a nossa vida, de fazer escolhos, a unica pessoa que pode feichar a porta da gaiola somos nos mesmos. Alguém acha que tu estas errando ? O problema é dêle. O teu Ser não tem nada à ver com a tua aparencia ou o teu jeito de fazer as coisas. E tu podes não estar concordando comigo, eu continuo ser a mesma pessoa, não vou feichar porta nenhuma.
Com todo meu carinho !
Se aprofundarmos a questão da competição, mesmo aí nos deparamos com a "necessidade do outro" e se quisermos (e tentarmos de verdade, desengaiolando-nos) podemos mudar essa lógica, passando a perceber que na competição podemos estar "com o outro", "precisamos do outro", "este outro precisa de mim". E, se preciso "do outro"... por que aniquilá-lo ou engaiolá-lo? Penso nas formas mais sublimes de competição... será isto possível? Ou estou me engaiolando?
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