
A viagem foi realizada por mim, Cleuza, Cecília e Joca, Dacila e Vitola. Não sei por que. Talvez pelas convicções ideológicas do Joca e Cecília, que votavam no PT e queriam ver um paraíso socialista. Talvez porque o dólar e o salário da época permitiam. Mas, sobretudo, por curiosidade, porque “navegar é preciso”.
No vôo – Encontramos diversas pessoas que estavam viajando para procurar recursos de saúde. Chamou-me a atenção um certo número de deficientes visuais e pessoas com vitiligo.
A recepção – Pareceu-me, salvo melhor juízo, que fomos recebidos no aeroporto não por gentileza, mas por determinação administrativa. Uma guia era encarregada de

Overbooking – O antigo Hotel Nacional, meca dos turistas, com aparência e

Sorveteria – De uma janela do Hotel Nacional, divisávamos uma sorveteria antiga e escura, com fila imensa.
Tropicana – Tropicana é um “night-club” remanescente dos anos capitalistas da ilha, preservado para turistas. O show é saído da máquina do tempo. Sem alegria, coristas de todas as idades cumprem uma monótona e burocrática coreografia. Na

Shopping – Há uma galeria que se poderia dizer de lojas, onde artigos são oferecidos aos turistas. Vitola e eu passeávamos em separado, olhando as vitrines, quando fomos abordados por duas prostitutas jovens, oferecendo seus préstimos, gentilmente recusados sob os olhares das patroas.
A Ferragem – Uma casa antiga havia sido transformada em ferragem. A antiga janela foi ampliada até o chão para expor uma vitrine. Num tabuado estavam expostos artigos triviais: uma resistência de chuveiro, uma chave de fenda, uma sola de couro para vedar torneiras, parafusos, pregos. Não há anúncios, nem preços, muito menos placas com o nome da ferragem.
Chiclete – Um pequeno bando de meninos nos cercam na rua, tipo pivetes. Pensamos que eles iam nos pedir dinheiro, depois da experiência das prostitutas e considerando nossa cultura brasileira. Eles nos pedem chicletes. Damos balas e eles saem sorridentes em algazarra.
Casas – Voltamos a pé para o hotel, para esticar as canelas. Passamos por diversas casas antigas onde, em escadarias escuras, pessoas sentadas olhavam para o infinito, em silêncio. Vimos muitas casas assim, com muitas pessoas. Não havia o rebuliço familiar brasileiro.

Ruas – As ruas centrais, de modo geral, são emolduradas por velhas casas sem pintura, descascadas. Os prédios oficiais são mais bem conservados. Não há quase automóveis, mas muitas bicicletas. Os poucos carros que se vê são relíquias dos anos 50s ou utilitários. Anda-se pelas ruas sem risco de atropelamento, como se andássemos na capa do Buena Vista Social Club.

Charutos – Visitamos uma fábrica dos famosos charutos cubanos. Lembro de muitas bancadas ocupadas por pessoas enrolando folhas de tabaco, numa sala mal iluminada. Não lembro de receber sorrisos. Como sou um antitabagista, apesar do meu nome, tudo que levamos foi uma caixa de madeira vazia, dessas de charutos, que nos foi oferecida como souvenir. Ao sairmos da fábrica, fomos abordados por um rapaz de bicicleta, ansioso e desconfiado, que nos pediu para comprar a caixa de charutos. Mostramos a ele que a caixa estava vazia. Ele, imediatamente, num “timing” perfeito, puxou de dentro da camisa um maço de charutos e perguntou se queríamos comprar. Dissemos que não. Ele, convincente, dobrou um dos charutos para mostrar que era flexível como borracha. Ri por dentro.
Na Universidade – Fomos academicamente recebidos e ciceroneados por um professor doutor, que nos teceu muitos elogios ao sistema de ensino cubano, salientando suas maravilhosas conquistas. Ao final, mais seguro de que éramos realmente quem parecíamos ser, ele nos ofereceu um cartão e, pediu que arranjássemos uma possibilidade de ir para o Brasil.

que nos atendia bem podia ser chamada jocosamente de aerovelha (perdão pela incorreção política). Foram servidas balas em uma bandeja. Por via das dúvidas, abastecemo-nos no aeroporto com o espetacular rum cubano envelhecido por 12
anos, que foi bebido por nós e convidados turistas, num vôo alcoolicamente alegre. A primeira visão do mar é inesquecível. Tem-se a impressão de ter chegado ao tal paraíso, num cenário de Help dos Beatles...
P.S.: Materialista dialético? Eu?!
20 comentários:
adorei vijar com vcs!!! mas a minha parada e esticada seria nesse mar infinitamente azul... tipo de foto-montagem, tipo de filme, tipo de sonho... adorei!!!
grasi
Tabá, viajei novamente depois desses 12 anos, recordando a nossa aventura cubana. Uma observação: que eu me lembre, a idéia de irmos à Cuba não foi exatamente minha e da Cecília. Lembro que pretendíamos ir a Cancun que estava na moda. Mas "eclodiu" uma guerra civil nas vésperas e trocamos o roteiro, sem nenhum arrependimento (pelo menos da minha parte). Guardo na lembrança a ótima experiência da convivência com vocês (tu e Cleuza, e os saudosos Vitola),a harmonia foi constante. Estivemos também em Varadeiro, pouco depois da passagem do Collor, lembras? Ah, registro também que a praia de Cayo Largo era de nudismo e apenas 6 brasileiros - nós(exagero, deveriam ser mais)estávamos conservadoramente trajados (maiôs e sungas).Boas lembranças...Abração.(Joca)
Conta mais.
Certo, certo, Joca, talvez a idéia de ir a Cuba tenha sido mesmo minha, mas a piada do PT é irresistível no momento - sorry... (eu falei talvez e falei de imprecisões, já me desculpei antes...)
De Varadero, além da passagem do famigerado Collor, lembro-me das algas em quantidade insuportável, grudando nas minhas pernas.
É verdade também que vimos nudistas. Mas nem valiam a pena olhar, lembras?
Parece-me uma viagem muito interessante. Como ja sabes, gosto imenso de viajar, mas neste altura nao tenho a grana ou oportunidade. Entao para divertir-me, gosto de ler ou ouvir as viagens dos outras pessoas.
De início tua retrospectiva me fez enveredar no "Buena Vista Social Club"... o que abordas adiante ao descreveres as ruas. Como escritor crias "belas imagens"... que me reportam, envolvem, inspiram. Não conheço Cuba, mas pude viajar com vocês neste texto. Para mim a Cuba que fica é aquela embaralhada entre o paradoxo político, o ritmo e a intensidade das pessoas e o sombrio do casario... tudo isto emoldurado pelo mar extravagante.
Amei viajar!
Até a próxima!
As paisagens realmente,devem ser encantadoras, porém a narrativa dos estabelecimentos, me lembra um dos outros poucos países que conheço, aquela pobreza...aquele desleixo, o Uruguay. A maioria dos países latinos é assim?
Gis
Gis:
Não sei te dizer assim dos países latino-americanos. Como descreves, tenho lembrança de contrastes de pobrezas e riquezas, desleixo e ostentação em Assunção, Paraguai - faz muito tempo que fomos lá. Mas, quando penso em Buenos Aires, penso em organização e limpeza (pelo menos da última vez que fomos). Quanto ao Uruguai, este mora no lado esquerdo do meu peito, adoro esse País, enxergo pobreza sim, mas com muito orgulho e não desleixo.
Sandra:
Pois foi justo isto de intensidade que fui buscar, mas não pude encontrar no atacado, só no varejo...
Ah sim, e o Chile que conheci pode ser tido como exemplo de pujança, organização etc. A cultura brotava pelas ruas, onde quer que andássemos.
Outra coisa: no interior do Uruguai encontrei cidades limpissimas, agitadissimas, com uma vida noturna de dar inveja aos brasileiros, que ficam em casa a noite toda vendo televisão e com medo de assalto.
Tá Bom, Tabá! Bem que eu percebi que havia uma provocaçãozinha envolvendo a minha simpatia pelo PT e a relação do Partido com Cuba... Mas, ainda falando de Cuba, tenho dois registros a fazer: 1)Não percebi em nossos passeios por Havana (principalmente aqueles passeios oficiosos ou clandestinos), propaganda explícita da Revolução ou mesmo de Fidel, o que eu esperava encontrar em todo canto, pois próprio dos sistemas Comunistas fechados (propaganda maciça). Apenas o Tchê é muito "badalado". Também não notei presença ostensiva do Exército. 2)A pobreza é generalizada. As pessoas, os recursos materiais em geral, os prédios, os veículos - com exceção daqueles que servem os turistas, todos importados com ar refrigerado. Não percebi diferenças visíveis de classe Econômica. Talvez por isto não haja discriminação (racial ou econômica, por óbvio). Não vi mendigos ou pedintes (a não ser os meninos pedindo chicletes americanos), mas disseram-nos que os há em alguns lugares, não franqueados aos turistas (por óbvio, tb).A TV era uma droga. E naqueles prédios antigos e quase em ruinas, em Havana Velha (bairro central antigo) moram várias famílias, dividindo espaços que em regra pertenciam - antes da Revolução - a uma só família. Quando fomos, havia cerca de dois anos tinha caído a URSS. Ah, Os Cubanos não curtiam os Russos, nem os Americanos e - deleitem-se - NÃO TOPAM OS ARGENTINOS!!! (Joca)
Ainda não conheço CUBA. Mas guardo uma admiração imensa com aquele pequeno gigante. Que povo sobreviveria ao embargo da maior potência mundial, estando praticamente no quintal dessa potência?
Não sou comunista, não sou petista e não sou castrista, mas a única batalha semelhante que tive na vida eu, como brizolista, fui solenemente derrotado, pelo Sr. Roberto Marinho. Dinheiro x ideologia. Não é justo.
Cuba, me espere, mesmo com sua pobreza, com seus hotéis velhos e com seus calhambeques coloridos. Quanto às prostitutas, não me preocupo porque sei que independente de qualquer orientação política ou econômica, lá estarão elas, à minha espera.
Só falta elas perguntarem se eu tenho visto o TÁBA.
Um beijão primo.
Pedrinho, meu primo:
Vai a Cuba, sim, que vale a pena. Por tudo que contei, vale a pena. Das viagens que eu fiz só me arrependi de ter ido ao Paraguai, no tempo do famigerado Stroessner.
Descrevi o que observei, sem muito julgamento. Os hotéis velhos e os calhambeques são um barato (julgando). Os caras do Buena Vista são ainda mais geniais, pena que não os vi por lá. Apenas, fiquei frustrado de não ter encontrado mais alegria e vida pulsante.
Apenas para não deixar passar: a resistência do pequeno gigante era bem sustentada pela grande União Soviética, não esqueçamos.
É verdade, também, que as prostitutas irão estar lá em qualquer sistema político. Eu, por ingenuidade, fiquei surpreso de encontrá-las em Havana.
Joca, meu querido:
Obrigado pelos preciosos complementos. Assino embaixo no que disseste.
grande Taba.
Achei legal pacas. O porém, é que fica a impressão que não existe nada de bom para os cubanos.
Será que é assim mesmo? Não sei não...
O que será que os turistas que visitam o Brasil pensam das favelas e das prostitutas? Deve ser culpa do Lula, da Marisa ou do PT.
Aderbal
Aderbal:
Pois, nos comentários, disse que não encontrei muita alegria e vida pulsante quando fui. Talvez o povo tenha saúde estatal, educação formal, alimentação de sobrevivência e, embora isso pareça um sonho, careça de liberdade de escolha. Se, como percebi, o povo cubano ainda é meio triste nos dias de hoje... não é que não haja nada de bom, mas ... não seriam plenamente felizes.
Os turistas não passam mal não, adorei ter ido lá.
Quanto às favelas e prostituição infantil no Brasil, isso deveria nos deixar muito infelizes, não achas? Não importa quem é o culpado. Certamente somos todos responsáveis de algum modo, alguns mais, outros menos.
Blogueiros do Tabá: Como podem perceber, eu fiquei excitado com o assunto! (Não eroticamente falando, pois não vi as tais Prostitutas...somente o Tabajara e o Vitola as "viram".)Mas vão me ocorrendo fatos, imagens, impressões, pois a diferença cultural é enorme. Mas quanto aos hotéis, aqueles em que nos hospedamos não eram pobres. Afinal, os Cubanos já à época estavam "investindo" pesadamente em turismo, fonte já muito expressiva nas receitas do País. O Hotel Nacional em Havana era um luxo só. Antigo, mas muito conservado. Com vários restaurantes de cozinhas diversas e um Cabaré (que não tive oportunidade de visitar, mas ouvi o som e a agitação. Não sei se o Tabajara foi). Em Cayo Largo era um hotel novo, ainda em construção, tipo praia, meia-boca, no máximo umas 3 estrelas brasileiras. Piscina com água salgada, tirada diretamente do Mar. Coisa muito estranha. Aliás, lá existem coisas muito estranhas. O hotel em Varadeiro era Italiano ou Espanhol, mas o serviço Cubano.Esse hotel moderno, constituído de duas torres altas, e entre elas um grande espaço com piscina, área de lazer, bares. O serviço era algo sofrível. Imagine-se um hotel administrado e atendido por funcionários públicos!
Uma coisa percebemos: eles não dão a mínima para reservas de hotel. Pareceu-me que era assim, por ordem de chegada. Tipo overbooking.Um terço de reservas acima da capacidade... Varadeiro era um balneário muito badalado na época, onde vimos muitas moradias de luxo, vilas, propriedades privadas. Os canadenses adoram Varadeiro. Ficam lá por um mês ou dois. (Joca)
Cuba é mesmo um enigma! Eu conheci um cubano este ano que elogiou muito o país, defendeu bastante. Porem tive um colega que morou lá por tres anos e falou muito das dificuldades que se enfrenta por la. /nao deve ser facil. Mas eu adpraria cpnhecer!
Taba, pela segunda vez na vida viajei a
Cuba sem sair de RG. A primeira foi com meus amigos argentinos que montaram " porteiners " aqui e lá.Me lembro de um relato, onde a cubana (não me lembro a situação)dizia que a felicidade era não precisar pagar água e luz, o resto ela ajeitava. Não sei quando a Lígia e eu poderemos visitar essa pérola do Caribe, até la vamos nos deleitando com os relatos de quem já foi. Abração
Marco Brizolara de Freitas
Minha ida a Cuba é anterior à de voces, 1990. Guardei muitas recordações e trouxe também muitas indagações. Talvez mais indagações do que recordações.
Duas recordações:1) achei magnifico o fato de, no trânsito, os carros de transporte coletivo terem sempre preferência (no sentido de trânsito preferencial) aos carros particulares. 2)Achei deprimente o fato de um casal de cubanos que foi detido por um policial, após sair de um restaurante, onde uma brasileira lhe dera, de recuerdo, uma nota de Cr& 500,00 (lembra que elas eram verdinhas?) pois é o policial pensou que fossem dólares.
Duas indagações: 1)por que, ao visitar uma escola, não conseguimos conversar com nenhuma criança, sem que uma professora viesse, rápido, para participar da conversa? 2) No que se transformará Cuba, quando o Comandante desaparecer?
Saudações cinematográficas Tabajara,
Eu ainda não conhecia este viés socialista do Joca...
Quando a minha filha ex-cacula Alice (ex-cacula pois foi cacula por 20 anos, até a chegada da Carolina em 2004)fez o intercâmbio
do AFS em Barbados, em 2000, eu a Guta fomo a Cuba, onde a Alice nos encontrou e passamos juntos 4 dias lá.
Ficamos só em Havana, além de um passeio pelas cercanias(visita a casa de Hemingway etc..) num Cadilac 52(que apareceu no "Buena Vista Social Club" levando o Compay Segundo).
Ficamos hospedados no Golden Tulip, bem bom.
Minhas impressões:
1. Conseguiram socializar a miséria.
2. O país parece ter parado no tempo.
3. Fiquei impressionado com a inventividade do povo para driblar a falta de quase tudo.
4. Os charutos, nas lojas das fábricas, custam muito caro, quase o preço daqui.
5. Quando cheguei no aeroporto, antes de passar pela aduana e imigração, pedi trocar 200 dólares. No guiche a atendendente
trocou as duas notas de 100 dólares por 1 de 50, 5 de 20 e 5 de 10 dólares. Quando disse que queria pesos ela sorriu e disse " Señor, aca só se usa dolares...."
6. As mocinhas de vida fácil lá são chamadas de gineteras.
7. Vi muitos americanos hospedados no Golden Tulip, e na Marina Hemingway condominios modernos e muitos iates com bandeira americana.
8. Pedintes nas ruas (não mendigos)
nos abordaram seguidamente pedindo qualquer coisa; sabonete, absorvente, peça de roupa..., nunca dinheiro.
9. Para finalizar: a sorveteria famosa lá é a Copélia. Quando estivemos lá tinha uma fila enorme, então desistimos de comer o famoso sorvete.
No ano passado a minha filha Júlia foi fazer um curso de documentário na Escola Superior de Cinema de Cuba e ficou um mês lá. Um dia comentou comigo que tinha ido tomar um sorvete na Copélia. Perguntei se ela tinha enfrentado aquela fila enorme e ela me disse que a fila é para os cubanos. Os estrangeiros não entram na fila!
Fecha o Pano....Tony
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