quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Sobre o não dito ou A Forja de um Artista

Imagina que duas pessoas cheguem em tua frente e tu elogies o cabelo daquela à direita. O que não foi dito sobre o cabelo da pessoa à esquerda tem significado. É o "som do silêncio". Pode ser interpretado de muitos modos. O que não é dito tem significado. O valor do zero.

Os irmãos Ramil: Kleiton & Kledir mostram fortemente sua união em diversas músicas - "somos corpo e alma, meu irmão, meu par". Mas eles tem outros irmãos. Um deles o Vitor Ramil. Se eles são corpo e alma e um par, onde fica o Vitor?

Numa canção eles declaram a maravilhosa memória das suas festas de São João, que curtiam juntos: "eu saía com meu irmão, de bigode de rolha".

Onde estava o pequeno Vitor?

Tempos depois Vitor apanha um poema de Fernando Pessoa e coloca nele uma melancólica melodia:

Noite de São João
Noite de São João
Para além do muro do meu quintal
Noite de São João
Noite de São João
Para além do muro do meu quintal

Do lado de cá, eu
Do lado de cá, eu
Do lado de cá, eu
Sem noite de São João
Do lado de cá, eu
Do lado de cá, eu
Do lado de cá, eu
Sem noite de São João

Porque há São João
Onde o festejam
Para mim há uma sombra de luz
De fogueiras na noite
De fogueiras na noite
De fogueiras na noite

Um ruído de gargalhadas
Os baques dos saltos
E um grito casual
De quem não sabe que eu
De quem não sabe que eu
De quem não sabe que eu existo

Comovente.

E assim, pelo não dito, se forjou um grande artista, poeta e músico pelotense.

As duas canções, quando colocadas lado a lado, tem outro sabor de aprendizado.

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