segunda-feira, março 03, 2008

Seu Irineu em Laguna

Sabedor de que Seu Irineu estava , separado da dileta esposa Pérola, que o havia trocado por uma advogada gaúchaalgum tempo, fiquei com pena e, confesso um tanto receoso, convidei o velho para passar uns dias comigo em Laguna, SC, no apartamento de meus cunhados, que combinei visitar no carnaval.

Na rodoviária, ao colocar as malas no bagageiro do ônibus, Seu Irineu ouviu o carregador dizer: “Vai pra Laguna, vô? Tem lugar para mim na mala?” Seu Irineu ficou todo satisfeito em saber que iria para um dos melhores carnavais do sul do Brasil.

Depois que chegamos e nos instalamos, o velho queria logo ir ver os blocos.

Foi então que os rapazes da casa em frente ao edifício iniciaram a “concentração”. Esta é uma espécie de aquecimento para a noite, onde acontece o seguinte: os rapazes bebem cervejatodos invariavelmente bebem Skol – vestem bermudas, têm tatuagem no ombro ou nas pernas e ficam sem camisa. As meninas ficam separadas – estas ficavam no terraço da casa – conversando entre si e tomando sol. Os rapazes, depois de um tempo, alegres, começam a dançar entre si, de vez em quando esfregam a barriga um no outro, talvez invejando os peitorais do companheiro. Isto tudo se passa numa macheza indubitável. As meninas nestas alturas dormem ao sol. Se Irineu ficou particularmente impressionado com um triângulo eqüilátero que tentava esconder as jovens nádegas de uma menina, que apontava, sem pudor, o tal triângulo em sua direção. Ficou sem fala por uns quinze minutos e depois balbuciou: “E ainda bebem Skol!!”. Então os rapazes começaram o aquecimento musical. Neste caso, consistia numa caminhonete super-equipada com alto-falantes poderosos, onde um cabo longo de eletricidade vai buscar energia no interior da casa. Foi que Seu Irineu começou a desconfiar que o carnaval estava mudado. Ele, esperando marchinhas carnavalescas, ouviu, num som ensurdecedor, mesmo com janelas e portas do apartamento fechadas, graciosas canções de Ivete Sangalo e Tati Quebra-Barraco. Havia aquela que falava de estar “atoladinha”. Havia a outra que falava de querer fornicar com o marido da vizinha. Havia a que versava sobre dar tapas nas partes pudendas femininas. Seu Irineu não entendia como era obrigado a suportar o volume e o mau-gosto. Ele atribuiu tudo aquela gangue de filhinhos de papai em particular e pediu para ir logo ver os blocos.

Fomos com ele para a rua central. No caminho, uns rapazes perguntaram se o “idosinho” comia as “idosinhas”. Seu Irineu, que é uma fera, queria matar os rapazes e proferiu uma série de impropérios sobre as genitoras dos meninos. Num edifício chique mais adiante, dois meninos divertiam-se em jogar água nos passantes, duma sacada. Ao chegarmos na rua central, Seu Irineu depara-se com a seguinte cena: carros estacionados ao longo da rua, com seus capôs abertos, respeitando uma distância regulamentar, cada um tinha seu cabo longo de eletricidade e comandava o seu som particular. Os amigos de um carro em particular, meninos e meninas, ficavam na volta dele, bebendo cerveja Skol. Os meninos dançavam com outros meninos ou sozinhos e as meninas idem. O hit do momento seria então a “Melô do Créu”, em que a coreografia representa uma ação sexual, incentivada pelo cantor, que canta basicamente o seguinte: “Créu, créu, créu, créu”, na parte um, na parte dois e no estribilho. Para Seu Irineu, amante da boa música, aquilo era a visão do inferno. Pensei em determinado momento que o velho fosse vomitar.

- E os blocos? – perguntava ele, aflito...

7 comentários:

Tabá disse...

A bem da verdade, levamos Seu Irineu depois ao sambódromo de Laguna, onde passariam os blocos. Ele também viu um grande palco montado na praia, onde lhe disseram que o carnaval era como ele imaginava. Mas ele não viu nada, era de manhã. Também levaram o velho para a avistagem de golfinhos. Não viu nenhum. Saiu afirmando que nada daquilo existia...tudo conversa para enganar os turistas...

Anônimo disse...

Créudo!!

Feliz retorno. Também voltei de minhas férias, que foram menos movimentadas!

Claudio Omar

Unknown disse...

Aee hein!! O seu Irineu não ficou pra ouvir os comentários pós festa. O carnaval de Laguna bombou esse ano! Dizem que foi bom como há anos não era! Isso é sério!
É só uma questão de se acostumar, diz pra vô voltar ano que vem que ele vai curtir! ;)
Beijão dindo!!

Unknown disse...

É triste mesmo! Onde este mundo vai parar? Um dia, na piscina do clube onde freqüento, minha irmã lamentou que não houvesse música "ambiente". Logo pensei e falei que seria difícil contentar a todos os sócios em seus gostos musicais e, a correr o risco de ouvir pagode, música certaneja ou funk, prefiro os gritos das crianças.
Um abraço grande, e minha solidariedade total ao sr. Irineu.
PS: E antes que eu ouça ou leia a respeito do "respeito à diferença", já vou avisando que respeito,desde que não me forcem a ouvir, estuprando meus ouvidos.

Anônimo disse...

Aposto que na noite em que vcs foram comer pizza com o Seu Irineu, choveu pra cara--- e acabou dando dor de barriga em alguém, tudo isso antes da chuvarada que a todos encharcou, eheh.
Ops... até ia falar das "diferenças"... mas vou respeitar a bronca da Pestano.
Bjãozão
Sandra Ribes

luisfranz disse...

Olá Taba,

Eu achei a história engraçada. :-))
No meu caso, os problemas de uma "indiada" sempre acabam sendo tema para boas risadas no futuro.
Acreditem. Tenho uma barraca amaldiçoada em casa de 1998. Todas as vezes que ela foi aberta por alguém, o camping tornou-se alvo de chuva. A dita cuja já viajou o litoral brasileiro da Bahia até Porto Alegre, tentando ser utilizada por uma colega minha, e não teve jeito, a guria acabou ficando nas pousadas pelo caminho. :-)) Conclusão, ninguém quer mais a tal barraca emprestada.

Abração,

FRANZ

Tabá disse...

Júlia: Falei prô Seu Irineu sobre o teu comentário e ele me disse: "Diz prá tua sobrinha bonitinha que ele é uma graça mas que eu não vou nunca acostumar meu ouvido como penico" Não entendi. Mas tá dado o recado.

Sandra: Eu concordo com a Pestano. Respeito as diferenças, mas que não me obriguem a fumar ou a encher os ouvidos de ..., digamos... lixo...

Quanto àquela noite da pizza, só nos faltou dormir na barraca do Franz!