
Diamantina era uma cidade histórica sem botox, que não havia feito plástica, nem se enfeitava para turista. Vivia dignamente com suas rugas, com seus prédios desbotados. Digo assim, no passado, porque faz muito tempo que não vou lá e não sei se algum governo não resolveu deixá-la mais “apresentável”. Suas ladeiras íngremes, seu calçamento de grandes pedras lisas dão-lhe um ar misterioso. Lembro dos botecos de serestas, por onde, conta-se, JK ia cantar e onde o Eduardinho tirou fotos com ele e pegou autógrafo.
Lá nos hospedamos num casarão colonial, azul-claro, cheio de janelas, pertencente ao dentista Márcio Gonçalves, amigo do Eduardo, com quem ele havia estudado Odontologia. Chegamos ao final de tarde e fomos colocados num quarto no piso superior do casarão. Dormimos cedo e pesado, cansados da longa viagem.
De manhã, acordamos com o sol entrando por grandes frestas da janela. Havia um cheiro de café doce no ar. Abrimos os postigos da janela e nos deparamos com uma paisagem de tirar o fôlego. Céu azul, montanhas silenciosas. De repente um piano soa pelo casarão e uma voz masculina começa a cantar uma canção do Milton Nascimento:
Clareia...manhã...
Descemos cheios de emoção as escadas. A família nos esperava à mesa, sorrindo, enquanto um rapaz cantava.
Pura magia.

Como era hora de jantar, resolvemos procurar algum lugar para comer antes de enfrentar a subida até a cidadela. Passamos por uma porta estreita com um cartaz antigo de que ali havia um restaurante. Aberta, a porta nos mostrou uma escada de pedra que descia para uma sala mal iluminada, com mesas e cadeiras escuras e, no fundo um fogo de churrasqueira e um cheiro de assado no ar. Quando a garçonete veio nos atender, eu disse que não gostaria de pedir, disse que gostaria de ser servido com o que eles quisessem. Ela ficou embaraçada e disse que então iria chamar o proprietário. Quando ele veio, eu repeti que gostaria que ele nos surpreendesse com o que ele achasse que deveríamos conhecer da comida do seu estabelecimento. O homem ficou radiante com a decisão. E aí começaram a vir as mais diversas surpresas. Entradas, temperos especiais, prato principal, carnes, salsichas especiais, sobremesa, queijos de cabra, um vinho maravilhoso. Era cedo. Só nós éramos atendidos, com uma atenção excepcional, numa orgia gastronômica delicada, cheia de sutilezas, estranhezas e ousadias. Saímos leves e bem alimentados. A conta foi muito menor do que eu calculava. O proprietário, encantado com o pedido, ainda nos presenteou com um digestif, um destilado para ser tomado após as refeições .
Dali, fomos em direção da cidadela em estado de graça e entramos numa cidade medieval tão conservada que parecia cenário de cinema. Puro mistério.
Pura magia.
5 comentários:
Hmmm... A Magia de Carcassonne foi muito mais "apetitosa" que de Diamantina. Eu sei que devemos valorizar e conhecer muito mais o nosso país... mas Carcassone parece muito melhor que Diamantina... =) Mas eu quero que vc descreva mais a cidadela medieval, pq ai sim eu vejo Magia.
=)
Que vontade de viajar...
Grata por compartilhar conosco tuas experiências de "viajeiro".
Adorei conhecer Diamantina e Carcassonne pelos teus olhos (e demais sentidos).
Bjão
Muito legal e so lendo " Carcassonne " devo ter engordado de 2 kg. Mas qual é o endereço ? e sera que tem um site para visitar e engordar mais um pouco ?
Taba, continua escrevendo e mandando. E muito bom
Et VIVE les VOYAGES, surtout Gastronomiques.
Jean-Jacques et Clélia
Tabác
Que bom que a minha dica proporcionou uma mágica e uma historia! Carcassonne foi um desses lugares magicos (é o título de uma música do Stephan Eicher)onde levei quem ia a frança sempre que a ocasião aparecia. Na minha sala na furg tenho dois quadros com fotos que tirei lá num dia de chuva e quase noite. Um daqueles momentos mágicos.
Outro lugar que eu procurava mostrar era a meus visitantes era Saint Emillion (40 km de Bordeaux). Lugar de turismo dos franceses. Cidade medieval, produtora de vinhos fantásticos, onde existe uma igreja monolitica e uma Pietá lindissima numa igreja do século XII. A historia da cidade está baseada num eremita chamado Emillion. Na primeira vez em que fui lá, no já distante ano de 88, aconteceu comigo uma dessas situações mágicas que deixam a gente em estado de graça, da mesma forma como ficastes em Carcassonne. Voltei a S E,como turista, pela enésima vez, no ano passado. E voltarei para caminhar nas ruas estreitas, de calçamento irregular, almoçar nos restaurantes da parte alta, tomar vinho, comer macaronne (acho que é assim) e dar uma volta no meio dos vinhedos sempre que passar ali perto.
Abraços
Osmar
Preciso voltar à Diamantina, deu saudades...
Enquanto viajei por Carcassonne com voces (ilusão), abri um vinho (real)e estou matutando um jeito de ir lá.
abraços.
Postar um comentário