
Caso 2: Um colega, com quem eu havia tido uma boa relação anteriormente, passou por mim um dia e acintosamente negou-me o seu cumprimento. Ele estava zangado por algo que eu havia dito em um episódio relacionado à política universitária. Passamos alguns anos sem nos cumprimentar. Eu também passei a lhe negar o cumprimento. Outro dia, num encontro casual, ele veio na minha direção, com a mão estendida. Correu o risco de que eu o ignorasse em frente aos seus colegas. Disse que estava arrependido de ter feito o que fez e que havia agido de maneira infantil. Eu apertei a mão dele de volta e disse que tudo acabava ali e que eu estava contente com o desfecho. Creio que agora sejamos mais amigos. Ele porque pode confiar mais em mim. Eu porque admiro alguém com a coragem que ele teve, demonstrando caráter forte.
Não conto estes episódios para dizer que sou um modelo. Mas, sendo professor, preciso contar que minha atitude é baseada na Teoria dos Jogos, que aprendi e pratico quando me dou conta. E dela obtive sucesso.
A Teoria dos Jogos louva a estratégia “Olho por Olho” que foi comprovada cientificamente por Axelrod, como sendo a mais eficaz estratégia nos jogos humanos e tem quatro regras básicas:
a) Nunca seja o primeiro a trair.
b) Jamais deixe passar uma traição em branco. Revide, se achar que foi traído. Retalie na medida certa e lembre-se da possibilidade de ser um mal-entendido. Não é nada educativo, no entanto, perdoar traições.
c) Recompense a cooperação no ato. Elogie. Devolva a cooperação sempre que puder. É muito educativo premiar a cooperação.
d) Se for traído, retalie logo, mas depois esqueça. Esqueça mesmo.
O contrário do perdão é o rancor. O rancor corrói o rancoroso. O rancor pune o rancoroso. O rancor gera a vingança. A vingança corrói mais ainda o vingativo, que acaba com sabor de derrota depois do ato praticado.
Manter rancor significa manter a pessoa odiada presa numa gaiola, sem direito à liberdade do arrependimento.
Não perdoar não é inteligente, porquanto não é eficaz nem educativo.
6 comentários:
Oi Taba!! Ótimo! Adorei relembrar um pouquinho das nossas aulas do mestrado que eu ADORAVA! Saudades! Abraço ronronante!
Eveline
É Taba...
Sei que "Não é nada educativo perdoar traições.", mas sei também que a memória (de quem grava na pedra) não esquece. E perdoar, de verdade, contempla esquecer. Eu não consigo!
eu...
Oi Taba ,
Concordo com você ,manter uma atitude falsa de perdão é a pior situaçào para ambos os lados , e na maioria das vezes , a atitude de fazer de conta acaba por iniciar um processo interno de magoa,raiva , muito ruim para qualquer um.
As dificuldades em relação ao efrentamento de situações conflituosas apontam para a nossa incompletude. Nas relações, normalmente temos medo do olho no olho (daquele jeito desnudo) e então mostramos o nosso pior, no fundo o que "me" incomoda tanto no outro, que me torna obsessivo, é exatamente aquilo que me falta, a minha dificuldade, os meus medos, os meus fantasmas, aquilo com que não consigo lidar e então crio expectativas "fora" de mim.
Acho fantástico quando consigo perceber isso e dialogo com o "outro" depois de ter as coisas mais elaboradas internamente, assim posso evitar o meu pior.
Nem sempre consigo. Mas tento.
Bjo, amigo.
Eveline: obrigado pela visita. Tenho saudades das aulas e dos ron-rons.
Hilda: se algo é possível para um ser humano, é possível para outros. É só experimentar.
Vizzotto: pois é, o melhor mesmo é ser franco, desde que com polidez.
Sandra: sim, somos incompletos e nos miramos no outro para perceber isso. Tentar (experimentar) é o mais importante, para mim.
O texto contraria, eu sei, o ensinamento cristão de "dar a outra face". Quem me ensinou foi um judeu...
Pois é Taba... geralmente a gente dá voltas e voltas na vida, e acabamos nos remetendo ao passado, ao ponto inicial, àquelas antigas vozes, sempre menosprezadas e esquecidas...
"Onde houver ofensa que eu leve o perdão...É perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para vida eterna!"
E o que é um padecimento voluntário, uma dor, um orgulho engolido senão uma morte?
É ótimo ler o seu blog!
Pq é tão raro trocar idéias hoje em dia...Bjs
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